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O meu nome é McQueen. Alexander McQueen.

Há muito que ansiávamos por saber mais sobre a vida do génio dos tecidos e das formas. Sabemos das peças que desenhou, dos cenários e do universo que criou e, na verdade, há pouca coisa que nos conte melhor a sua história.

Houve também quem escrevesse livros biográficos e sobre o seu legado – Unseen (Robert Fairer), Alexander McQueen: Savage Beauty (Andrew Bolton), Inferno: Alexander McQueen (Kent Baker and Melanie Rickey), deixando escrito em tantos fragmentos paginados, a vida de Alexander McQueen.

Faltava-nos o filme. Porque os filmes deixam-nos entrar pela porta adentro ou, pelo menos, dão-nos a bonita ilusão de estar perto. McQueen é o documentário sobre Lee, Alex ou Alexander (escolha o nome que preferir), co-realizado por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui.

McQueen fez do seu nome a marca que marcou para sempre a história da moda.

O documentário fala-nos disso mesmo: do princípio, da carreira e do precipício. Através de imagens de arquivo, entrevistas à família e amigos mais próximos, filmagens no backstage dos desfiles, e pedaços de conversa com o próprio designer, chegamos-lhe ao íntimo. Tocamos-lhe nas feridas que a infância lhe sulcou e dedilhamos as costuras que lhe serviram de remendo e remédio. Das cicatrizes que o tempo não soube apagar, ficou sobretudo esta linha ténue que fez esbater a fronteira entre a moda e a arte, do princípio dos anos 2000 até hoje.

O documentário segue a vida do estilista por ordem cronológica. Divide-se em 5 capítulos, cada um com o nome das colecções mais icónicas que criou. Todas elas, um desfile do seu lado mais negro, evocando a violência, a violação e outros demónios. Desde Jack the Ripper Stalks His Victims a Highland Rape, passando por Plato’s Atlantis ao mais sublime e grotesco Voss, é como se em cada capítulo da sua vida estivesse quase sempre assinada esta beleza trágica.

Alexander McQueen, britânico oriundo de East London, era a realeza da moda, a jóia da coroa da alta-costura nascida como um diamante em bruto, à espera de ser encontrado – como se ouve alguém dizer, a certa altura, durante o filme: “Ninguém descobriu Alexander McQueen. Alexander McQueen descobriu-se a si próprio.”

Era fã de Sinnead O’Connor, fã número 1 da sua mãe (que fazia questão de levar o lanche às modelos durante os desfiles), tirava as medidas a olho nu, despia-se de preconceitos em tudo o que fazia, até durante a dura passagem pela Givenchy, deixou que um carro ardesse durante o início de um desfile, teve o final infeliz que conhecemos. Repudiava a estética cândida e cumpridora de Paris, abraçava a extravagância e os extremos “eu quero causar a repulsa e a paixão”, tudo ao mesmo tempo.

McQueen é um filme à medida de quem o inspira. Sem perguntas desnecessárias, sem folhos e floreados a mais, sem detalhes biográficos que lhe assentem mal, com a atenção desviada para o que interessa: “Se me querem conhecer, olhem para o meu trabalho”, dizia (Lee) McQueen. É, no entanto, um filme insaciável – porque nos desperta a gula de querer saber mais. Mas é disso que se vestem as lendas: do manto misterioso que lhes cobre a razão e da vontade que temos em destapá-lo.

Tem 24 anos mas acredita que a infância dura a vida inteira. Talvez seja por isso que sonha com filmes do Spielberg e é apaixonada por livros ilustrados e desenhos animados. Nasceu em Sines, mora em Lisboa mas tem um coração tropical que a leva constantemente ao outro lado do atlântico e à cultura latina. Trabalha como copywriter em publicidade e dedica-se à escrita nas horas vagas – e é aí que se vai perdendo, para se encontrar.

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