KORU 6: uma trienal de joalharia contemporânea
KORU é uma trienal de joalharia contemporânea que ocorre há já vários anos na Finlândia. Já na sexta edição, com sede em Imatra, o principal objetivo deste evento internacional é apresentar amplamente a joalharia contemporânea e reunir artistas, palestrantes, investigadores e pessoas com interesse em joalharia contemporânea para participar das exposições, seminários e workshops.
Nas três exposições preparadas para o evento, em várias cidades finlandesas, participou uma série de artistas e joalheiros provenientes dos países nórdicos e bálticos maioritariamente, com participação portuguesa a representar-se por Cristina Filipe e Manel Vilhena.
Entendo que precisamos de um mundo da arte e da joalharia contemporânea conjuntos. Aproximo-me do mundo da joalharia contemporânea, tentando institui-lo como uma arena discursiva, como um sensório, como um mundo de razões simbólicas que propõe experiências estéticas simbólicas e reflexivas. Reconheço que os joalheiros contemporâneos nos propõem símbolos que comunicam algo intencionalmente, através de tropos retóricos e camadas de significados. Há razões a priori para que a vida contribua para esta atmosfera discursiva. Devemos igualmente interpretar o significado que as joias nos propõem, como uma tarefa hermenêutica
No entanto, neste momento, vou considerar que o mundo da joalharia contemporânea – onde o KORU e eventos semelhantes se incluem – tem sido até agora um mundo bastante institucional, ligado a galerias e museus que abrangem ou mantêm relações de proximidade com esse mesmo meio, seguindo protocolos com uma lógica própria. Mas este mundo institucional não se conecta com uma atmosfera teórica. A reflexão teórica sobre joalharia contemporânea, acima de tudo filosófica e crítica, é escassa. São os próprios joalheiros que contribuem para questionar seu próprio mundo, através da sua obra.
O mundo da joalharia contemporânea, no presente, é bastante associável – mesmo que não seja o mesmo – ao mundo da arte conforme Morgan descreve (MORGAN, 1998). Este autor entende que nos anos oitenta se estabeleceu um mundo da arte de natureza institucional e constrói-se como uma empresa social, política e económica que funciona associado a alternâncias de lobbies. O mundo da arte está atualmente configurado como uma base onde a arte e os artistas encontram o seu sustento para emergir. Numa lógica de reação em cadeia – aquela que Morgan comenta como se fosse global – a arte em si tornou-se uma espécie de móvel relevante, como mercadoria cultural, irrelevante para reconfigurar a discussão artística. Para Morgan, essa arte oferece-nos discursos emoldurados por ideias e retóricas da moda, encerradas numa linguagem académica rígida.
Estas considerações levam-me a pensar na lógica do mundo da joalharia como algo similar à comunidade de apoio de um artista, tal como definida por Morgan nos anos setenta. Os joalheiros, o seu trabalho e as transfigurações que eles propõem formam o núcleo dessa comunidade, da qual a crítica filosófica está bastante ausente. No campo da joalharia contemporânea, as instituições são geralmente percebidas como insiders do perímetro da comunidade.
Deste modo, arriscando-me a especular, digo que certas galerias e eventos como o KORU estão incluídas na mesma plataforma de significado, onde a natureza híbrida da joalharia contemporânea se compreende.