Chungking Express (1994), Fallen Angels (1995) e Happy Together (1997) são algumas das obras icónicas do cineasta Wong Kar-Wai. Decorria o ano de 2000 quando Wong Kar-Wai lançou o belíssimo filme In the Mood for Love, produzindo também o argumento.

Venceu o prémio de melhor realizador no Festival de Cannes de 1997 com o filme Happy Together. Apesar de ter nascido em Xangai, Kar-Wai foi viver, com cinco anos, para Hong Kong com os pais.

O fascínio de Kar-Wai por esta cidade reflete-se na sua filmografia de forma muito marcante. In the Mood for Love não é exceção, já que a trama decorre em Hong Kong, na década de 60, que se encontrava à época sob a administração britânica, tendo-se tornado autónoma em 1997, ficando novamente com soberania chinesa.

A narrativa retrata a relação entre um jornalista Chow Mo-wan (Tony Leung ) e  uma secretária Su Li-zhen (Maggie Cheung). Os atores são notáveis na forma como transpõem para os personagens uma história de amor que não precisa de grandes encenações para demonstrar o óbvio. A forma singular como ambos encarnam os papéis através de expressões discretas, de gestos, de olhares furtivos é incrivelmente sedutora, revelando um sofrimento partilhado por um amor reprimido. A subtileza enquanto “amantes” é profundamente envolvente.

Os protagonistas são ambos casados, sendo as infidelidades dos respetivos cônjuges uma constante. Apesar de nunca aparecerem, Kar-Wai vai dando pistas que aludem a este facto. Mesmo assim, sente-se uma inquietação imensa em Chow Mo-wan  e Su Li-zhen em consumarem a paixão num contexto propício às suas aventuras e desventuras, uma vez que os dois vivem num prédio sobrelotado em Hong Kong, uma cidade que começa a dar sinais de algum desenvolvimento económico. Kar-Wai explora, com enorme mestria, o isolamento e a solidão a que estes dois personagens estão confinados, em contraponto com o caos das grandes metrópoles.

Com uma banda sonora de cortar a respiração, uma das marcas distintivas nos filmes de Kar-Wai, em In the Mood for Love esta assume, uma vez mais, um papel determinante na criação de uma atmosfera intimista. Nat King Cole é uma das vozes que nos embala, sendo obrigatório referir Shigeru Umebayashi, compositor japonês, autor do tema original que vai ecoando ao longo do filme, resultando numa explosão de emoções indizível.

A fotografia de Christopher Doyle é crucial na construção de uma composição quase poética… a câmara capta as cenas em movimento, num compasso lento, recorrendo a cores quentes, sobretudo o vermelho, numa analogia ao amor e à paixão. Kar-Wai não descura nenhum pormenor. O guarda-roupa é pensado ao detalhe, conseguindo recriar de uma forma ímpar o ambiente da Sociedade de Hong-Kong.  Os cenários são absolutamente deslumbrantes. Esta panóplia de elementos conjugam-se de uma forma sublime, criando uma atmosfera romanticista de rara beleza.

Kar-Wai explora a essência do amor, um tema recorrente na sua obra cinematográfica, como uma espécie de dança, em passo lento, sem malabarismos, onde a arte é o que sobressai.

In the Mood for Love é uma história de amor, um grito de alma desesperado, em que a magia da imagem atinge uma dimensão quase extrassensorial.