Jorge Queiroz, na ZdB
Está patente, na galeria ZDB, até ao dia 8 de setembro, A Invenção do Sim e do Não, uma exposição do artista Jorge Queiroz.
Num toque ligeiramente site-specific, várias salas são preenchidas por grandes pinturas e alguns desenhos do artista,
Nas pinturas de Jorge Queiroz, as pequenas paisagens despontam à superfície de telas amplas. Silhuetas afirmam-se no interior desses microambientes, desintegrando-se logo a seguir em magmas volúveis de cores que se fundem. Este fluxo de matéria pictórica, que se escoa pela tela, e que, imediatamente a seguir, transborda em novos jardins, em lugarejos perdidos, ou fragmentos doces, denunciam um reincidir destes motivos. Nas telas de Queiroz os pequenos esconderijos bucólicos repetem-se, revelam instantes de felicidade e partilha, e simultaneamente, noutros casos, momentos, de solidão.
E é neste vaivém de emoções que emerge o ensejo do drama, o tema da melancolia, o deleite da narrativa.
Rosalind Krauss afirmou, algures, que num período inicial do século passado se começava a delinear um modernismo avesso à literatura, ao formato de discurso, à sequência narrativa. A grelha de Krauss, ou grid, conforme a autora chamava, “cumpria assim bem o seu papel”, e afastava a “intromissão do discurso” das artes da visão.
Essa oposição discurso – visão que caracterizou a história da arte do século XX, e que ainda se mantém até hoje, parece esbater-se nas telas de Jorge. Porque a pintura de artista exala uma “organicidade”, desafia as leis da estrutura – conforme é definida na grelha de Krauss, no sentido do plano, da “geometria, da ordem, do antimimético, antinatural e antireal” – e revela outra organização, menos “científica”, à revelia do formalismo moderno. Em Queiroz há matéria que salta, não há plano, ou melhor há plano (essa “superfície simples”), mas é no confronto entre esse plano moderno e a natureza.
Queiroz, por isso, recorda toda uma pintura “que voltou as costas à natureza”, e estimula um elogio a todo um quadro de referências visuais, como em Teócrito e as suas exaltações poéticas sonoras e olfativas, descritas por Roger.
A pintura de Jorge Queiroz é como uma janela do estúdio de Caspar Friedrich a abrir-se. Sem portadas, nem molduras, a definirem o que se pode ver lá para fora, e em simultâneo, o que pode inquietar o observador. ao ver o interior de si mesmo. Um interior de “contradições” estas, “presentes na estrutura do inconsciente”. Como nos diz Krauss: “porque as contradições são como elementos reprimidos que funcionam para promover repetições do mesmo conflito”, ou trauma, que em Queiroz se manifesta por meio do referencial da melancolia.