Da paisagem para a galeria – fenómenos naturais e artificiais
A arqueologia da paisagem e dos fenómenos naturais, sobretudo os geológicos e de decomposição, tem sido um motivo de abordagem e investigação de vários artistas contemporâneos. A redescoberta da natureza – não apenas nas suas propriedades processuais ou lógicas, mas também nas místicas e nas humanizadas –, bem como a aura avassaladora indutora de assombro, é o catalisador de muitas obras que reconduzem o espetador a esses momentos primevos e cosmológicos, ora criadores ora destrutivos.
Marcelo Moscheta retoma a estas temáticas em A História Natural e Outras Ruínas e mostra-nos uma série de composições e instalações que transformam, e quase deificam, acontecimentos naturais e paisagens modificadas pelo artifício humano. As obras são uma tentativa de iconografar as metamorfoses que escapam à experiência humana, mercê, talvez, de um desinteresse crescente das coisas da Natureza e da ecologia.
Melancholia, por exemplo, é uma peça que mostra uma série de fragmentos em bronze resultantes de um meteorito fictício. Aqui parece haver uma dupla tentativa de expor um processo cosmológico – e nalguns casos cosmogónico, pelo deslumbramento que surtiu em civilizações antigas – e de relembrar, ainda que não de forma explícita, o filme de Lars von Trier, com o mesmo título, que era simultaneamente uma representação da panaceia individual para a depressão e do terror salvífico de um cometa imenso que colide com a Terra, destruindo-a.
A História Natural e Outras Ruínas, de Marcelo Moscheta, está patente na Galeria Vermelho, em São Paulo, Brasil, até 23 de junho.