Miguel Palma. A-Z
A máquina. O motor, os cabos, a construção. Tornar visível o invisível. Cerca de 300 obras sobre papel que compõem o que o MAAT chama de desenho-instalação e que se reúnem sob o signo de antologia de Miguel Palma, assente no que é o seu trabalho menos conhecido. Assim podemos conhecer um pouco melhor a metodologia artística de Miguel Palma e como é que ele chega à escultura-instalação. É a primeira exposição exclusiva do seu trabalho sobre papel, cujas obras perfazem cerca de um quarto do total existente, segundo a curadora Adelaide Ginga.
Os trabalhos presentes, embora sirvam maioritariamente como suporte ou auxiliares das obras escultóricas de Palma, não têm, contudo, carácter de esboço, mas enformam o que é todo um percurso artístico paralelo. Percebemos, assim, o prazer que o artista tem no desenho e no trabalho sobre papel, pois leva-o até à obra acabada e passível de ser exposta. Palma confessa “sinto uma enorme liberdade com o desenho” e considera que a colagem (que se repete amiúde nesta antológica) tem uma relação muito próxima com a escultura.
Quando entramos no Project Room do MAAT, é como se entrássemos no quarto de um adolescente, cheio de posters nas paredes. Esta A-Z tem este carácter exaustivo de documentação, quase como se todos os desenhos juntos formassem um todo, que é o trabalho sobre papel de um artista, cuja faceta conhecida assenta em instalações e esculturas que são reconhecíveis mesmo se não nos for indicado de quem são.
Podemos presenciar aqui, o perfil de recolector que lhe conhecemos na grande escala escultórica, mas que agora se revela no detalhe e na minúcia. Obras onde se misturam o desenho técnico com a colagem e a pintura, recortes de jornal ou de livros técnicos, fotografias, pequenas legendas ou comentários que parecem compor um todo que deve ser visto a dois tempos: de longe, a mancha composta por todos os desenhos e de perto, um a um, onde vemos as ligações ao seu trabalho mais conhecido.
Nem todas as obras expostas nos remetem para as suas esculturas de forma directa. Antes a sua minúcia, o seu amor pela mecânica das coisas e o seu sentido de humor, são elementos habitualmente presentes na sua obra e que agora aparecem de forma coerente mas como se fossem uma espécie de lado negro, não por serem inferiores de alguma forma, mas por serem como uma forma tímida e delicada de tudo o que já podemos observar nas suas esculturas e instalações. Miguel Palma considera que na escultura, um trabalho em equipa, há uma maior contaminação e que o desenho é mais solitário, mais introspectivo. De facto, podemos vislumbrar nestes desenhos a essência do seu trabalho, como se estivesse contido neles a chave que decifra toda a sua restante obra ou a linha que a rege.
Há um lado de experimentação que atravessa toda a obra de Miguel Palma e que é bem patente nos desenho intimistas aqui presentes. Ao olhar para as paredes do Project Room conseguimos ler a história da obra de Miguel Palma, contada através dos seus desenhos, numa espécie de biografia artística Warburguiana.