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Once Upon a Time in America. Realizado por Sergio Leone (1984)

A obra cinematográfica de Sergio Leone, realizador, produtor e argumentista italiano, é associada a um determinado género de filmes, os Western Spaghetti. Ao longo da sua carreira, presenteou-nos com obras-primas que perduram no tempo. É impossível esquecer a trilogia A Fistful of Dollars (1964); For a Few Dollars More (1965); The Good, the Bad and the Ugly (1966). Muitos foram aqueles que viram em Leone uma inspiração, como é o caso de Quentin Tarantino.

Leone deixou uma marca indelével no universo da sétima arte. Mas seria redutor falar da genialidade de Leone apenas pelos seus Western Spaghetti. Sem ele jamais teríamos Once Upon a Time in America, um dos filmes mais brilhantes de que há memória.

Apenas uma pessoa excecional conseguiria construir uma estória sobre a Máfia Judaica através de um retrato fiel da sua ascensão e subsequente queda numa perspetiva emotiva de tal forma intensa que quase sucumbimos perante este turbilhão de emoções. Porque é disto que se trata. Once Upon a Time in America é, acima de tudo, uma elegia ao amor e à amizade. Mas Leone mostra-nos também como a ambição e a atração pelo poder leva o Homem a cometer alguns dos atos mais sórdidos…

A narrativa retrata a amizade entre quatro rapazes de ascendência judaica, oriundos de uma classe social baixa, com vivências similares. Este jovem gangue começa por cometer pequenos delitos nas ruas de Lower East Side, em Nova Iorque. Mas, com o passar dos anos, estes pequenos delitos cedo se transformarão em crimes com outra dimensão. A trama decorre entre as décadas de vinte e cinquenta atravessando o auge da Lei Seca.

Mas o principal foco de atenção de Leone é a forte ligação que une dois dos quatro amigos e o seu percurso ao longo de cerca de quatro décadas, David Aaronson — “Noodles” (Robert de Niro) e Maximillian Bercouicz — “Max” (James Woods). E é precisamente na Era em que Máfia Judaica assume uma grande força que esta amizade irá sofrer consequências devastadoras nas suas vidas. Uma odisseia desde a infância até ao período em que a idade da inocência há muito desapareceu.

Se por um lado, Max é o mais racional e calculista, Noodles é mais ingénuo e deseja apenas o amor eterno da sua paixão de sempre, Deborah (Elizabeth McGovern). Uma das cenas mais comoventes do filme é o momento em que Noodles (ainda miúdo) “espreita” Deborah (também ela miúda) a dançar ballet (Deborah sabe que está a ser observada). Não é fácil descrever a beleza e a ternura desta cena. O tempo para…o olhar envergonhado de Noodles, contemplando a sua amada Deborah, com o seu ar etéreo, dança com delicadeza e candura… As expressões de ambos são de tal forma genuínas que é impossível ficar indiferente.

E este é o momento para introduzir um dos elementos mais importantes desta narrativa. Enio Morricone, através das suas composições, oferece-nos momentos de uma beleza transcendental. Ao longo do filme, Leone filma diversas sequências de imagens em que a música de Morricone surge como “pano de fundo”. O resultado é magistral! Momentos de pura poesia que nos devoram a alma!

Sergio Leone é notável na forma como filma cada segundo, cada minuto, com uma perícia espantosa, digno apenas de uma minoria. Atrevo-me a afirmar que este cineasta atingiu a perfeição com Once Upon a Time in America.

Com um elenco absolutamente extraordinário, Once Upon a Time in America é uma obra de arte que merece ser revisitada vezes sem conta.

Apesar da sua Licenciatura em Gestão de Marketing, o seu percurso nunca foi linear. Detesta as rotinas entorpecedoras e a escrita é seu refúgio. Quando inicia as suas deambulações por esse universo fica completamente alienada do mundo. Nunca se levou muito a sério. "Depus a máscara e vi-me ao espelho. — / Era a criança de há quantos anos. / Não tinha mudado nada... / É essa a vantagem de saber tirar a máscara. / É-se sempre a criança (...)" – Fernando Pessoa. Uma das suas principais características é criar empatia com todo o tipo de pessoas. A sua maior paixão é o Cinema e, sempre que pode, não abdica de longas tertúlias com os suspeitos do costume, com os quais partilha os seus estados de alma. "I try to get closer to reality, to get close to the contradictions. The cinema world can be a real world rather than a dream world.” – Michael Haneke

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