Exposição de Homenagem a Vico Magistretti
No âmbito do Dia do Design Italiano, Portugal recebe, até dia 26 de março, primeiro em Lisboa e depois no Porto, a exposição itinerante Svicolando, Homenagem a Vico Magistretti. Com curadoria do arquitecto Nadir Bonaccorso, a exposição esteve primeiramente patente no Centro Cultural de Belém, e encontra-se agora presente na Casa do Design de Matosinhos.
A exposição revela-se assim num espaço expositivo preenchido, ao centro, por duas estruturas em cartão, que ostentam desenhos, esbocetos, e reproduções de fotografias da vida e obra do designer.
Dada a enorme quantidade de desenhos expostos, o curador pôde pôr, em evidência, a importância que o desenho assumiu na prática do designer italiano. Para Magistretti, o mais importante no desenho, ou no esboço, não era tanto o modo como ilustrava a imagem do objeto, mas mais o seu significado. Não representando, para o designer, o lugar, onde os objetos nascem, mas antes o espaço onde se estabelecem as relações entre as ideias do designer e a produção em série, numa “continua troca de observações e sugestões.” Como um registo no tempo, de todas as fases do trabalho, o desenho vai compondo o objeto, em sucessivas tentativas e “enformações”, revelando as tensões próprias e naturais que se estabelecem entre o seu entusiasmo criativo e as (im)possibilidades materiais e técnicas da sua realização. O desenho, para Magistretti, era como que um processo de escavação até à mais profunda essência do objeto. Procurando “olhar para o objeto vulgar com um olhar invulgar”.
Nesse sentido o desenho é favorecido pela informação que contém. Uma informação que é intencional, e que revela, a pouco e pouco, as preocupações colocadas pelo designer, de ordem estrutural.
Assim, no “devir da linha”, como diria Philip Cabau, o espaço em branco do desenho é preenchido por uma profusão de linhas, tremidas ou vigorosas, numa busca de soluções, e em que o designer, inicialmente, estabelece um diálogo consigo próprio.
A ladear estas estruturas, que suportam os desenhos no centro da exposição, encontram-se algumas das suas peças mais emblemáticas: a peça Eclisse, a peça Atollo, e a peça Dalu são os maiores exemplos. Candeeiros de mesa, denunciam o gosto que Vico Magistretti tinha em trabalhar as várias nuances da luz e da sombra. O candeeiro Eclisse, feito em 1965, manifesta esta possibilidade de regulação da luz. Feito de três meias esferas, uma atua como base do candeeiro, as outras duas, concêntricas, sobre o topo da primeira, actuam como elementos modeladores de luz. A semi-esfera interior vai rodando e a esfera exterior vai servindo de abajour, eliminando a luz dura e dando uma segunda leitura ao candeeiro. O candeeiro Dalu, por seu turno, foi concebido em 1969 e é um excelente exemplo das experiências em plásticos moldados por injeção que o designer começou a realizar, a partir do ano de 1966. Dalu e Eclisse são assim o resultado do que a técnica de moldagem do plástico permite em liberdade e multiplicação de formas. Facilitando na concretização das formas geométricas abstratas que tanto Magistretti apreciava, não sem esquecer a silenciosa união das partes, que se fazia em pequenos elementos, muito subtis.
Também presente na exposição encontra-se o candeeiro de pé alto, Chimera, de 1970. Trata-se de um candeeiro composto por um difusor branco ondulante. Uma folha de metacrilato opalino branco serve de abajour e modela a luz.
Ainda o candeeiro Atollo, (1977), revela um difusor de luz em cor negra. Composto por uma justaposição de formas geométricas simples, conserva a estrutura de um candeeiro tradicional, porém Magistretti trabalhou-o até à exaustão, a fim de o mesmo atingir a essencialidade, como se se tratasse de uma escultura geométrica abstrata.
Magistretti fez parte do grupo de designers que, nos anos 50/60 do século XX, ajudou a elevar o design moderno italiano a um espetro mais amplo, numa perspectiva internacional. Designers como Castiglioni, Marco Zanuzo, Tobia Scarpa, e o próprio Magistretti reagiram contra o estilo internacional, racionalista, como ele era, nos contornos da escola de ULM e integraram elementos mais humanizados, como permitir a memória e a valorização do que é autóctone.