Sociedade Nacional de Belas Artes a preto e branco
Alguns nomes repetem-se doutras coleções privadas de Arte Contemporânea constituídas em território nacional, como se houvesse um mapa com qual mais ou menos se vai comungando. Os mesmos nomes marcam presença nas exposições que refletem as aquisições recentes dos museus públicos, pelo menos dos que verdadeiramente se dedicam à causa, com política aquisitiva e atento aos “novos”. Contudo, no grosso, a tarefa tem estado entregue aos privados e ainda bem que estes têm mantido o sentido de responsabilidade de, não só adquirir, exercício fundamental para a disseminação da produção como para a sobrevivência dos criadores, mas de estudar e divulgar as coleções através de dispositivos de comunicação como são a exposição ou as publicações e que têm nos curadores cada mais os intermediários do discurso artista-públicos. É consciente dessa responsabilidade que João Silvério parte para um processo de interpretação de obras recentes da Coleção da Fundação PLMJ, promovendo ligações e (re)leituras de propostas de artistas tão fascinantes como são Andrea Inocêncio, André Cepeda, Dalila Gonçalves, Daniel Blaufuks, João Penalva, Jorge Molder, Julião Sarmento, Paulo Catrica ou Vasco Araújo, fazendo uma seleção subjetiva dos 39 que, no total, se apresentam em A Preto & Branco, 29 de março, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa.
A seleção de João Silvério é dominada pela fotografia, sendo também representativas as presenças do desenho e do vídeo e o todo, como a ausência (branco e preto), são o mote aglutinador da seleção. De montagem clássica, mas exemplar, a proposta curatorial consegue primeiro dar-nos a sensação de imersão num imenso lugar de espelhos com o mundo exterior, do qual fugimos quando entramos no espaço cultural (museu ou outro). A presença humana, seja pelas referências imagéticas à cidade, pela fotografia de rua, pelos retratos e pelas viagens memoriais que se promovem a contextos sociais e políticos à tona da água, é o grande tema da mostra, que evidencia a diversidade VS divergência cultural dos nossos territórios, bem como a dispersão e compressão dos estados emocionais expostos. A Fundação PLMJ parte do hábito do colecionismo de uma sociedade de advogados com o mesmo nome e mantendo-se fiel ao desígnio, distribui e ocupa a SNBA com uma exposição de combinações inusitadas que lê o espaço que ocupa e cria um desafio expográfico de interpelação dos públicos.
Na mesma data em que visitei esta exposição, a SNBA acolhia na Galeria Pintor Fernando de Azevedo uma exposição individual de Rui Tavares (n.1974) intitulada Branco | Da verticalidade das Coisas. “Um quadro é a resposta a uma questão que se desconhece”, escreve o autor no texto de introdução à mostra que, verdadeiramente, se apresenta como uma lufada de ar fresco na perseguição dos verbos “conceber, experimentar e criar”, parafraseando Rute Rosas, que tornam visceral, profícua e digna a matéria artística.
A Sociedade Nacional de Belas Artes tem apresentado, com regularidade, um programa de exposições que a devolve à Poiésis das vanguardas, mantendo-se fiel à valorização da Techné, aproximando e afastando da Mimesis, se colocarmos as várias propostas da exposição da Coleção da Fundação PLMJ e a de Rui Tavares em diálogo, porque é assim que se apresentam aos públicos: em diálogo e justaposição.