Uma Pausa com Claire de Santa Coloma
A artista franco-argentina foi vencedora da 12ª edição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP, atribuído pela primeira vez a uma jovem não portuguesa, com a instalação Composição Eterna.
Claire chegou a Portugal em 2009, com apenas 26 anos de idade, e foi no nosso país que iniciou a sua carreira no mundo das artes, tendo a sua passagem pela escola Maumaus sido uma experiência determinante. Aprendeu a importância do contexto na obra de arte, conceptualizando-a e apresentando-a de uma forma aberta e pensada num espaço contemporâneo.
Pausa é a sua mais recente exposição individual que irá permanecer até ao dia 13 de janeiro na 3+1 Arte Contemporânea, galeria que a representa há vários anos. A presente mostra é constituída por sete intervenções, distribuídas pelas salas expositivas num espaço reduzido que, desta vez, não funcionam num todo tal como surgiu no MAAT; mas sim numa articulação ao próprio espaço, num diálogo entre escultura, objeto funcional e o universo do usufruidor, remetendo para uma triangulação conseguida.
“O que me interessa é o tempo que se vai sedimentando nas minhas obras” C.Santa Coloma
As obras abstratas, de linhas sóbrias vivem e respiram livremente sendo que cada uma delas circula num lugar específico, com diferentes posicionamentos (de parede; de chão, na vertical suportadas por uma base ou simplesmente suspensas) exercício esse que é fundamental para a autora. A artista procurou assim montar as peças, por forma a criar lugares de ponderação, interrogando-se sobre o modo como as vemos e nos relacionarmos. Atrai-a a ideia de que as suas esculturas possam viver num contexto quotidiano, que convivam com outros objetos, que habitem o espaço, que sejam tocadas e olhadas. O seu trabalho o qual implica o tocar necessita sempre de uma presença física, num ato de fazer com o seu gesto. “O que me interessa é a relação da escultura com o sítio que ela ocupa”. O mais importante é fazer a experiência da obra de arte.
A obra é concebida no seu material preferido, a madeira com uma articulação pontual com o aço, vai assumindo novos contornos com diferentes funcionalidades no seu acolhimento do lugar previamente estabelecido, consoante a sábia escolha realizada pelo percurso desenhado. “Acho que estou viciada na madeira”. A peça central gira em torno de Banco para contemplação sintetizando o seu trabalho, que para além de relevar o lado orgânico, assume um forte apelo ao tato que a forma volumétrica apresenta e oferece. Faz igualmente uma referência à bidimensionalidade (desenho e pintura) através de um retângulo pendurado na parede, numa clara alusão verificada noutras duas composições Frottage Paisagem e Escultura sobre tela. Transpondo de uma forma lapidar e expressiva um banco com um fundo escavado de duas lombas, deixa um lugar em aberto ao peso do próprio corpo ali inexistente, numa presença da memória de um corpo humano que ali tivesse habitado numa coabitação sensorial. O que lhe interessa particularmente é o exercício comportamental no plano do conceito que a escultura releva numa espacialidade própria. Quanto ao processo criativo da artista não é de um grande ineditismo, nem pode ser considerado de uma grande originalidade; (questão que foi debatida pelo Júri do Prémio), a não ser no exercício racional que consegue conciliar a escultura através do fator tempo, entre o passado, o presente e o futuro, refletindo sobre “o que pode ser hoje a escultura”. Absorveu as técnicas de uma lição com o passado, aprendendo a dominá-las na perfeição e fez uma reinterpretação, transcendendo a sua própria técnica.
O seu trabalho propõe uma reflexão sobre os tempos que estamos a viver, do nosso quotidiano, num elogio à lentidão. Nasceu em Buenos Aires em 1983. Estudou escultura de talha direta nos Ateliers Beaux Arts de la Ville de Paris. Fez o mestrado em Artes Plásticas na Universidade da Sorbonne, Paris e integrou o grupo de artistas latino-americanos de Lisboa Capital de Cultura Iberoamericana com uma residência nos Coruchéus e um projeto na galeria Quadrum.