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Rui Valério na Galeria Kubik

Rui Valério expõe Sonatas e Interludes, uma exposição individual que estará patente na Galeria Kubik (Porto), a partir do dia 25 de Novembro.

O artista apresenta, na galeria, um corpo de desenhos com o objetivo de que sejam interpretados, nas suas propriedades visuais e, simultaneamente, musicais

Rui Valério propõe, por isso, uma experiência sinestésica do desenho, na medida em que cria o seu próprio “caderno de composição”, ao conceber “desenhos que exploram diferentes tipos de abordagem gráfica”, usando também diversas técnicas e materiais, afastando-se da noção de desenho convencional, dito gestual. Não esquecer o trabalho do artista que, à semelhança de anteriores exposições, nos vem habituando a uma evocação historicista da arte, nomeadamente na sugestão ao período do minimalismo, que defendia uma supressão do expressionismo abstrato.

Nos mesmos desenhos, desenvolvidos em pauta musical, o artista inaugura um exercício de adição, supressão, desconstrução da própria estrutura de pauta.

Numa perspetiva de redimensionamento da pauta à escala arquitetónica da galeria, o espaço é, também ele, ocupado por pontuações e vazios, numa aproximação ao conceito de obra site specific.

Algumas peças presentes na exposição constituem uma tradução da realidade sonora para a realidade do desenho, contida na ondas hertzianas, e sugerindo o princípio de Goddard de que “ver também é ouvir”.

À obra do artista não é alheia a integração do conceito de apropriação, sendo que o espaço da galeria é igualmente preenchido com peças que sugerem, pela problemática, a reflexão no domínio da autoria. Na realidade, desperta, ou levanta aspetos sobre a apropriação pertinentes, dado que a apropriação, mais do que minar a autoria da arte, pode até ajudar a reforçar e valorizar esse incremento autoral.

Por outro lado, traz a lume a reflexão do autoritarismo presente na obrigatoriedade da inovação artística. Sendo que cada vez que se faz uma peça artística, o artista é forçado a criar algo de novo, ou é obrigado a ser o autor de todo o processo e detalhe da obra.

Assim, numa perspetiva libertadora, os primeiros artistas que surgiram e se recorreram ao princípio de apropriação, foram, eles próprios inovadores, uma vez que fizeram ver que a obrigatoriedade da inovação na obra do artista era uma imposição que se afigurava autoritária e opressora da atividade do artista. Pois que, e segundo Rosalind Krauss, até mesmo “o maior copista, não é exclusivamente agente da imitação, mas sim, também ele, por vezes, mestre da invenção”.

Carla Carbone nasceu em Lisboa, 1971. Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador. (fotografia: Eurico Lino Vale)

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