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Lehmann + Silva

No presente mês de novembro surgiu uma nova proposta no panorama artístico da cidade do Porto, resultante do diálogo entre Frederick Lehmann e Mário Ferreira da Silva. Materializada na forma de espaço expositivo, com o nome Lehmann + Silva, reflete a junção do rigor e gosto do colecionador com a paixão e a grande motivação do art advisor. Este último, ainda jovem, conta já com um certo percurso profissional a nível internacional e com alguma experiência na produção artística, algo que certamente o aproxima dos artistas que a galeria irá representar. O espaço, palco de um projeto interessante, bem definido e assertivo, conta com um ainda inicial mas já relevante acervo, autónomo da coleção particular de Lehmann, com prestigiados nomes como Helena Almeida.

É deste modo que a Lehmann + Silva abre as portas com a confiança necessária para se afirmar ante o atual vibrante e acelerado crescimento artístico do Porto, partindo da premissa de Mário Silva “work local, think global”.

© João Morgado

A galeria situa-se na rua Duque de Terceira, na proximidade da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Fixa-se, assim, numa zona desde sempre percorrida por artistas e ocupada pelos seus ateliers, como por exemplo do incontornável Ângelo de Sousa. Hoje, ainda circundada por criadores, estúdios e espaços de exposição, alguns deles alternativos, Lehmann + Silva está localizada com o propósito e o desejo de absorver e, consequentemente, ecoar a energia criativa que emana na zona. Deste modo, não se assume com o objetivo de se distanciar dos outros circuitos artísticos da cidade, mas antes com uma vontade em habitar o centro produtivo da mais jovem geração de artistas da cidade.

© João Morgado

Foi assim que, no passado dia 11, a galeria inaugurou com a exposição How to do things comissariada por Juan Luis Toboso. Mário Ferreira da Silva, rosto que abriu as portas da casa, escolheu o curador espanhol que já colaborou no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, para que a ocasião fosse garantidamente singular. Tal particularidade também se estendeu à seleção dos cinco artistas, três nacionais e dois espanhóis, que compõem uma heterogeneidade formal e visual, o que constituiu uma das caraterísticas próprias da arte contemporânea.

Josep Maynou é o autor das obras que mais se destacam, tanto pelo seu modo de ocupação do espaço como pela forma e estética que cativam a visão do espetador e proporcionam uma certa experiência. Sob a forma de dois tapetes confecionados pelo artista em Marrocos, a partir das técnicas tradicionais locais, a obra inaugura as paredes, o teto e o chão da galeria, interpelando quem as vê e possibilitando a sua observação através de várias perspetivas. Josep Maynou, apesar de viver em Berlim, executou parte do seu percurso académico na Faculdade de Belas Artes do Porto, tornando este momento uma oportunidade ideal para uma espécie de retorno criativo.

© Constança Babo

Exposta ao seu lado, também com uma qualidade visual que se revela de imediato, encontra-se uma obra assinada por Ramiro Guerreiro. As provas de contacto do interessante trabalho fotográfico são reunidas e apresentadas sob o título Enlatados (wedgies), representando mais um sucesso deste artista já familiar na esfera da arte nacional, principalmente desde que recebeu uma Menção Honrosa da Fundação EDP, em 2005. Ainda aumentando a dimensão do interesse da obra e a sua individualidade, foi exposta, emoldurada e organizada estruturalmente com a parceria do reconhecido fotógrafo André Cepeda.

A reflexão sobre os cânones de arquitetura existentes no trabalho de Ramiro Guerreiro poderá também encontrar uma continuidade no díptico fotográfico de Diana Carvalho. Em relação ao restante espaço, distribuído por Fermin Jimenez Landa e Joana da Conceição, é feita a transição para o vídeo e a pintura, respetivamente. O olhar do espetador é, pois, confrontado com realidades e práticas artísticas igualmente díspares. Ora, ao percepcionar todas as obras expostas como conjunto, como um todo, verifica-se uma intensa dinâmica e consequente pluralidade expositiva.

É precisamente com grande dinamismo que Mário Ferreira da Silva propõe mover-se, ambicionando realizar entre seis a oito exposições no próximo ano e, a partir daí, concorrer às feiras de arte que lhe permitam solidificar este novo projeto. O rigor deste está também patente na arquitetura da galeria, na pintura das paredes, na iluminação e, ainda, na inteligente concepção de um piso inferior polivalente, que poderá ser utilizado como prolongamento da área expositiva ou como espaço de criação e produção de artistas. É, sem dúvida, nítido como a plataforma foi cuidadosamente pensada para se relacionar e conjugar com a arte que nela se venha a expor. Lehman + Silva chega-nos, como Mário Ferreira da Silva explica, na forma de uma “galeria inteletualizada”.

© João Morgado

Constança Babo (Porto, 1992) é doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona. Tem como área de investigação as artes dos novos media e a curadoria. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos. Foi research fellow no projeto internacional Beyond Matter, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e esteve como investigadora na Tallinn University, no projeto MODINA.

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