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Jazz em Agosto – afiem as agulhas outra vez

Fotografias: Vera Marmelo.

Dois pratos e vinis, muitos. De um lado Evan Parker, do outro David Toop. Um auditório negro a contrastar com os dias de canícula desse fim de semana e uma plateia repleta de respigadores. A primeira sessão, é um sistema de georreferenciação sonoro, a segunda, um regresso aos primórdios do experimentalismo e respetivos contextos históricos. As sessões de Sharpen your Needles a passarem a porta do Café OTO, pela primeira vez, e a deixarem aviso para a edição deste ano do Jazz em Agosto – cuidado com as agulhas. Referência algo forçada, concedemos, mas plenamente justificada, pensamos nós, quando devemos chamar a atenção para um dos concertos desta edição – Pedro Sousa + Pedro Lopes (Sábado, 05 de agosto). Ambos dispensam apresentações. Ao primeiro reconhece-se voracidade inesgotável, seja no modo como se debruça sobre o saxofone, tornando indistinta a forma corpo-instrumento, seja como companheiro de estrada de Gabriel Ferrandini ou nos diferentes projetos que vai abraçando com David Maranha e Bruno Silva ou ainda com Thurston Moore e Marching Church. Talvez por estar radicado em Berlim, o trabalho de Pedro Lopes passará mais despercebido por cá. Mas é justificação vaga e preguiçosa. Quem teve oportunidade de o ver tocar por Lisboa, nos últimos tempos, e recordemos somente os concertos no Damas e no Estrela, em mais uma sessão de Estrela Decadente, ficou abismado com a capacidade de se utilizar um prato de gira-discos como instrumento. É que a função de qualquer objeto vai muito para lá da primordial. Susana Santos Silva outra salta fronteiras, trompetista natural do Porto e radicada atualmente em Estocolmo, apresentará Life and Other Transient Storms (2017) álbum editado pela Clean Feed, na terça-feira, dia 01 de agosto, juntamente com Lotte Anker (Saxofone tenor e soprano), Sten Sandell (Piano), Torbjörn Zetterberg (Contrabaixo), Jon Fält (Bateria). Metamorphosis (2016 – Clean Feed), desta feita integrando o projecto LAMA, é igualmente merecedor de uso desenfreado de maiúsculas, tal a qualidade que apresenta. Alerta máximo é aviso que rapidamente se torna condição.

 

Pedro Sousa

E porque nacionalidade não é critério, destaque para os inevitáveis concertos de Peter Brötzmann & Heather Leigh, segunda-feira 31 de julho e de Dave Douglas, Domingo 06 de agosto, a encerrar esta 34ª Edição. Frequentes as visitas do músico alemão a este ocidente, seja em diferentes edições do Out.Fest ou na ZDB, seja na penúltima edição do Festival Rescaldo em que se fez acompanhar pelos Black Bombaim e que deu origem a trabalho editado recentemente pela lovers & lollypops. Brötzmann, saxofone alto e tenor, clarinete e tárogató far-se-á acompanhar de Heather Leigh, em pedal steel guitar. Ears Are Filled with Wonder (Not Two Records, 2016) é o mote, que a acreditar no título da dupla deixar-nos-á a todos estupefactos. De Dave Douglas, apontemos o título do Público de 2005, aquando do seu concerto no CCB – Dave Douglas apresenta jazz montanhês no CCB. Dessa longínqua noite de março, recorda-se não só o virtuosismo do trompetista, mas a vontade indómita em trilhar um caminho que se torna marca identitária. Se dedicatória houvesse para poema de António Machado ao músico americano devia ser dedicada – “Se hace camino al andar“.

Seria trabalho inglório, continuar com uma espécie de roteiro, as justificações são várias, colocar-nos-ia num patamar de pretenso conhecimento total, que não é manifestamente o caso, remeter-nos-ia para sujeitos passivos, que não é manifestamente vontade, desejamos guardar espaço para a descoberta e sobretudo porque há uma circularidade inevitável, daí voltarmos às actividades programadas para lá dos concertos e dar o mais que merecido destaque ao lançamento do livro Life is a Simple Mess (2017), de Travassos, editado pela Chili Com Carne e a ser apresentado no dia do concerto de Larry Ochs, The Fictivie Five, sexta, 04 de agosto. Travassos é designer e ilustrador especializado em capas de discos, maioritariamente, nos territórios do Jazz. Life is a Simple Mess, percurso imaginário repartido em três etapas Life is Simple, Life is a Mess e Mish-Mash onde as formas simples e complexas coabitam de forma natural e complementar. Ao longo do percurso os textos de Nate Wooley vão-nos dando pistas e revelações para uma possível interpretação deste cenário simbiótico do real-irreal.

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Jazz em Agosto

28 julho – 06 de agosto de 2017

Fundação Calouste Gulbenkian

Aos cinco anos, vi publicado um conto – "Era uma vez um atacador e um sapato, e o atacador fugiu". Por volta dos doze um desenho da Branca de Neve teve uma bicicleta como prémio. Da esperança em ser um escritor reconhecido, a ser um pintor brilhante tudo se esmoreceu ao longo dos anos. Desenhos falados, os mapas, começam a ocupar a minha atenção. Licenciado em Geografia, com pós graduação em Planeamento Urbano e outra em Políticas de Inovação. O quotidiano assume o seu curso natural, não sem antes escrevinhar os mais variados desvios (a Umbigo, a Nariz Entupido entre outros) e muitas saídas à noite, porque nunca se sabe a que horas nasce o sol.

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