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O Olhar da Sibila no Museu do Oriente

Fotografias: Nuno Vieira / Fundação Oriente.

In nova fert animus mutatas dicere formas / corpora

A exposição O Olhar da Sibila – Corporalidade e Transfiguração parte da ideia de metamorfose desenvolvida por Ovídio: corpos transmutam-se em coisas, coisas em animais, animais em seres; a perpétua transformação do cosmos desde a sua génese ao definhamento (por seu lado, início de novas transformações).

Comissariada por João Silvério, com recurso às coleções de seis instituições privadas (as fundações CGD – Culturegest, Arpad Szenes – Vieira da Silva, EDP, Millenium BCP, Oriente e PLMJ), este trabalho fomenta uma revisão das obras de arte sob o signo transformador que as suas corporalidades encerram, permitindo novas leituras, interpretações e perspetivas. No limite, esta exposição confirma o caráter dialogante e inesgotável da arte e da sua própria história.

O olhar da Sibila chega-nos em vários momentos e em formas diversificadas e fragmentadas: o olhar que figura nas próprias obras; o olhar do autor; o olhar do espetador, de quem contempla; outro olho, um terceiro, incorpóreo, deslocado, observa toda esta coreografia impercetível de modos de ver…

As personagens de Li Yousong olham-nos resolutas e atentas, entre ocidentais e orientais; a série fotográfica de Júlia Ventura devolve-nos a emoção do olhar; Ana Vidigal, a cegueira e atrevida do blind date; Fernanda Fragateiro a visão dos escritores que se suicidaram, impressa nas obras que deixaram, devidamente ordenadas e arrumadas numa estante; Noé Sendas esconde e mostra rostos e corpos e, entre luz, sombra e penumbra, transfigura a forma dos figurados; Adriana Molder confronta o olhar da mãe e da filha e; Miguel Palma eletrifica dois olhos, com um fino relâmpago inquieto a uni-los. A mostra é imensa e variada e as leituras, pelos diversos suportes apresentado, inesgotáveis.

Alternativamente, o tema do colecionismo privado em Portugal é também revisitado – mais concretamente o colecionismo corporativo – uma matéria da maior importância para o sistema da arte contemporânea e que terá sido debatida na conferência Corporate Art Collections, promovida pela Fundação PLMJ. Ou seja, a exposição mostra também a capacidade que as aquisições de obras, por parte de grandes empresas, têm de energizar o mundo da arte, dar-lhe um novo fôlego e, assim, promover novos discursos e visões, não só portuguesas, mas também globais, como a própria listagem de autores sugere.

Em exibição no Museu do Oriente, até 18 de Junho.

José Rui Pardal Pina (n. 1988), mestre em arquitetura pelo I.S.T. em 2012. Em 2016 ingressou na Pós-graduação em Curadoria de Arte na FCSH-UNL e começou a colaborar na revista Umbigo. Curador do Diálogos (2018-), um projeto editorial que faz a ponte entre artistas e museus ou instituições culturais e científicas, não afetas à arte contemporânea.

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