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EDITORIAL
Hoje em dia fala-se muito em vanguarda. Será que os portugueses acompanham a evolução social e cultural que vemos em alguns países? Será que o espírito vanguardista grassa entre nós? Vamos recuar no tempo até ao séc. XVIII. Vejamos o exemplo do desbocado Bocage com a sua literatura por vezes considerada obscena e algo pornográfica. Na altura, a sua obra deu origem a vários escândalos. No entanto, o autor não se coibiu de escrever da forma que mais prazer lhe dava (a ele e aos seus leitores). Será que hoje em dia as pessoas são capazes de pegar num livro de Bocage e lerem de uma forma desprovida de preconceitos? Não; os comentários permanecem repletos de falsos pudores. Será que algum dia vamos conseguir despir-nos do espírito pudico e da falta de sentido de humor que nos rodeia?
Avançando no tempo, podemos dar outros exemplos, como é o caso da revista espanhola Neo2, que realizou um editorial de moda em que os modelos naturalmente abandonam a pose fashion para se dedicarem a satisfazer as suas necessidades fisiológicas. A ideia, arrojada que era, deslumbrou muita gente, que se sentiu estimulada pela provocação e o estilo insólito das imagens. Em Portugal, a reacção foi de uma surpresa positiva. Mas, será que esta reacção teria sido idêntica se a ideia partisse de uma publicação nacional? Não nos parece. Infelizmente o slogan “o internacional é que é bom” continua em vigor. Atitude que também transparece na postura da classe política. Aquando da realização da principal feira de arte em Portugal, a Arte Lisboa, Durão Barroso foi uma das figuras políticas que primou pela ausência. No entanto, não deixou de comparecer à prestigiada Arco, em Madrid, manifestando um “súbito” interesse pela arte contemporânea (o que não deixa de ser estranho num governo que ainda não se empenhou a fundo na criação de um instituto que proteja e desenvolva adequadamente e de forma dinâmica a arte contemporânea portuguesa nas suas diversas vertentes). Este episódio leva-nos a pensar que a arte só interessa fora de portas. Cá, por enquanto, esta só é devidamente apoiada se aplicada a um relvado.
Não somos adeptos da subsídio-dependência prolongada (a prova reside no facto de já estarmos a editar o #8 da revista e pobres de nós se dependêssemos de dinheiros estatais). Por outro lado, a nossa odisseia pelo mundo das publicações de arte nunca se teria iniciado sem o empurrão do Instituto Português do Livro e da Biblioteca – que continua a ajudar-nos com a compra de assinaturas, o que nos permite estar presentes em 150 bibliotecas. Só é pena que em Portugal sejam somente as publicações culturais e a própria classe artística a divulgar e incentivar as artes plásticas e performativas. Continua a reinar a ideia de que estamos em crise e que a arte não alimenta o estômago. Mas o que fazer sem ela? Viver na sombra, sem alimentar o espírito e o encéfalo?
Já agora, gostávamos de dar uma novidade que nos encheu o ego. Todos os anos a Revista do Papel reúne as principais figuras do design gráfico e impressão, constituindo um júri que selecciona e avalia tudo o que se faz em Portugal no domínio das artes gráficas. Em 2003, a Umbigo entrou no concurso (através da Tilgráfica) na categoria de revistas, acabando por ser galardoada com o Grande Prémio. Ao que parece, não estamos a trabalhar em vão…
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ÍNDICE
04. josefina paiva . penugens
08. editorial
10. helmut newton . 1920 – 2004
12. cinco sentidos
18. robert flynt . fascinante campo de batalha
22. julião sarmento . esse obscuro objecto de desejo
26. hanin elias . mulher fatal!
28. cynthia caster plaster . o maravilhoso mundo das esculturas fálicas
30. castrados . o canto dos anjos
32. bocage . o pornógrafo
34. louise bourgeois . labirintos da libido
36. mary… run?
38. playroom
40. believe it
42. méxico . identidade e ruptura
46. andres serrano . para além da provocação
48. heike schneider-matzigkeit . metamorfoses
52. rui chafes . a esfera da vida
54. laurence demaison . metamorfose
56. georges pichard . o último libertino
58. joão castro silva . retalhos de corpos insólitos
60. all about her
68. contorcionismo . um arrepio na espinha
70. vilgot sjöman . I am curious yellow blue
71. o corpo dos amantes
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