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Fotografias: António Néu e Elsa Garcia.

Na capital portuguesa, e não obstante o já diversas vezes referenciado boom turístico, os sussurros em castelhano misturaram-se com os mais variados idiomas que percorreram a cidade de lés a lés num intenso programa dedicado à arte contemporânea.

A segunda edição da ARCOlisboa veio de forma assertiva comprovar que a cidade já há muito necessitava de uma feira que a colocasse no mapa da arte contemporânea. Galeristas, artistas, curadores, museus, agentes culturais, colecionadores e fundações uniram-se de forma a tornar a semana numa das mais movimentadas dos últimos tempos. Entre os brunches nas galerias, tardes passadas na Cordoaria, eventos de final de dia e inaugurações simultâneas poucos foram os que dormiram as desejáveis oito horas. A intensidade juntou-se com a adrenalina e não obstante o feed-back positivo, várias vozes consideraram o programa demasiado intenso para o cumprir do objetivo principal: a ARCO na Cordoaria.

Lisboa está de facto na moda e finalmente a atrair um número cada vez maior de turismo cultural, são várias as galerias que estão a abrir e apesar do cepticismo de alguns referente a esta explosão artística, muitos consideram que existe um mercado suficiente, comprovando uma retoma na economia. Ayose foi o responsável por levar aos vários espaços – galerias, eventos, festas – os cerca de 70 colecionadores internacionais que integravam este programa. Muitos vieram da América Latina (Peru, Argentina, México), Espanha, Suiça, Alemanha e França. “Gostaram imenso, compraram muita arte, adoram os artistas portugueses contemporâneos e são conhecedores”. Ayose referiu ainda que após o périplo pelas galerias alguns manifestaram desejo em ter uma casa em Lisboa.

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Sentiu-se o dinheiro a circular e o sorriso estampado na face de artistas e galeristas que animados falavam sobre o trabalho e sobre as vendas. Para além dos colecionadores internacionais, os grandes investimentos partiram da Câmara Municipal de Lisboa, Fundação EDP e Fundação Serralves. Cruzámo-nos com Ana Feijó da Galeria Presença, do Porto, que levou para a feira principalmente artistas portugueses como Pedro Gomes, Vasco Araújo, Francisco Queirós, Mafalda Santos, Carlos Mensil, Pedro Matos, João Pedro Vale e Miguel Palma. Contou-nos que a feira lhe estava a correr lindamente e que “tem muito menos visitantes do que no ano passado – este ano a feira foi visitada por 10 000 pessoas e no anos passado por 13 000 –  mas o público é mais específico e fizemos muito mais vendas que no ano passado. Vendemos para Zurique, Espanha, e no primeiro dia uma peça de Miguel Palma para o MAAT, o que foi muito bom.”

Para Carlos Urroz, diretor da ARCO, a primeira edição foi mais experimental e este ano todo o conceito foi amadurecido. “As galerias estão bastante contentes com as vendas e o programa de colecionadores internacionais funcionou muito bem”. Toda a cidade se movimentou em função da ARCO e para Carlos este foi também um aspeto complementar para uma semana dedicada à arte contemporânea, mencionando de forma positiva o crescimento do mercado com a abertura das novas galerias nacionais e internacionais em Lisboa, como a portuguesa Francisco Fino, espanhola Maisterravalbuena ou a italiana Monitor. “Como diretor da ARCO penso que se deveria reduzir os impostos para as galerias e percebo que estas dependem cada vez mais das feiras e dos contactos feitos internacionalmente, independentemente da cidade onde estão instaladas”.

Foi no stand da F2 Galeria que encontrámos o curador André de Quiroga, mesmo em frente à obra de Miki Leal, um dos artistas que vendia a obra produzida pelo curador no âmbito do projeto Mar e Montanha. Na opinião de André, este ano “houve um crescimento qualitativo e quantitativo que funcionou muito bem, principalmente ao nível de alguns colecionadores que costumo encontrar em feiras internacionais, que nunca vieram a Lisboa, e que desta vez chegaram diretamente de Veneza. É assim que deve ser e pretende-se que a ARCOlisboa seja uma plataforma artística internacional: trazer dinheiro de fora para adquirir arte cá dentro. Para além disso esta feira está a fazer um papel pedagógico, o que é importante para quem compra, expõe, cria e comunica. A feira cresceu quase 10%, o que é bastante, e sente-se um envolvimento cada vez maior por parte das várias instituições. Uma feira constrói-se ao longo de décadas e a ARCOlisboa para segundo ano parece-me extraordinária”.

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Enquanto visitava a feira, Thiago Verardi comentou ter visto “muito mais obras ousadas do que esperava”, acrescentando ficar feliz “quando encontro algo completamente novo”. Já o colecionador Pedro Dias considera a ARCOlisboa uma feira conservadora, “os galeristas não correm grandes ricos e gostaria que fossem mais arrojados”. Para Thiago o vencedor da secção curatorial Opening foi a galeria Madragoa e da feira destacou os trabalhos dos artistas Vasco Araújo, Túlio Pinto, Filipe Marques “e uma escultura de Pedro Barateiro que considero uma das mais fantásticas da ARCO”. Mais tarde Pedro Barateiro revelou-nos ter vendido a peça para a Fundação Serralves.

Opening

Na secção Opening — pela primeira vez em Lisboa — a curadoria  esteve a cargo de João Laia e contou com oitos galerias, quatro nacionais e quatro internacionais. No espaço expositivo João colocou galerias e artistas em diálogo. “Brincando com o nome pretendi criar um espaço realmente aberto e a minha proposta foi pensar e refletir no que se está a passar a nível social, não numa perspetiva política. A arte não é autónoma, pertence a um sistema social e é nessa base que incide o meu trabalho. Quando convidei as galerias, já tinha pensado nos artistas que queria trazer, aliás grande parte deles já fizeram parte de exposições minhas”. A fechar ou a abrir a secção estava a instalação The Growing Museum do artista Carlos Noronha Feio, composta por um kimono japonês infantil da Segunda Guerra Mundial, uma moeda dos Yoruba (Nigéria) e uma bala de canhão do século XVIII da marinha britânica. “Trata-se de peças que vou colecionando e que podem funcionar como embriões de pequenos museus. No fundo criam os seus tentáculos para o resto da minha prática”. No lado oposto da secção uma das obras mais inusitadas da feira, pertencente ao artista Lennart Lahuis representado pela galeria holandesa Dürst Britt & Mayhew. Antes da abertura da galeria, Yarim e Mayhew dirigiram um estúdio onde mostravam artistas com um trabalho efémero e é neste conceito que se insere a obra acima mencionada. Com um forte caráter conceptual e composta por 20 placas em pedra, nela estão inseridas palavras ou frases escritas a água. “Após quatro horas, a água evapora e as palavras desaparecem. Quanto mais pessoas se aproximam da peça mais rapidamente as palavras se evaporam”, contou Yarim.

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Desde há muito que a Umbigo tem vindo a afirmar a sua posição na fusão entre os mundos da arte e da moda e na ARCO foram inúmeros os visitantes ligados à moda que visitaram a feira. O produtor de moda Filipe Carriço confessou-nos ser um colecionador, reafirmando a importância da complementaridade entre arte e moda. “Criadores e grandes marcas nunca estão dissociadas e indo um pouco mais atrás basta pensar em Mondrian e Yves Saint Laurent. Acabei de sair agora do stand da Cristina Guerra, de quem sou grande amigo, e gostei bastante das propostas, entre elas a do João Louro de quem já tenho uma peça. Adoro respirar arte e sinto que devo estar aqui. Já abdiquei de algumas coisas para comprar obras, entre elas uma peça do início de carreira da Joana Vasconcelos e um pequeno desenho do Picasso”. Pouco depois encontrámos o curador Lourenço Egreja que comentou estar “shopping for artists”. Referiu a feira como o “the talk of town como dizem os americanos" e gostou particularmente dos trabalhos dos artistas Carlos Mensil e Túlio Pinto. Carlos Mensil levou para a feira a instalação De Saco Cheio que remete para a saturação de eventos massificados por parte da sociedade. Assim encontramos uma série de peças “de diferentes tamanhos que tendem a adaptar-se à vontade do colecionador. É uma série isolada do meu trabalho criada especificamente para este registo”, contou o artista.

Para nós a programação terminou no domingo ao sabor de um brunch, oferecido pela Câmara Municipal de Cascais, na idílica Casa de Santa Maria, uma casa palaciana do arquiteto Raul Lino, datada de 1902. No interior e com a curadoria de Lourenço Egreja as obras de oito artistas –resultantes de residências no Carpe Diem – nomeadamente Isabel Simões, Pedro Valdez Cardoso, Pedro Vaz, Fabrizio Matos, Sofia Leitão, Beatrice Caracciolo, Carla Cabanas e Sofia Leitão. Ambos, Carpe Diem e Casa de Santa Maria, são espaços domésticos, nunca foram pensados para ser galerias e neles as obras convivem e dialogam num ambiente intimista e acolhedor, perfeitamente integradas em cada uma das salas. Sentimo-nos em casa a conviver com a “nossa própria coleção”. Alguns colecionadores mencionaram esta exposição como uma das mais arriscadas e interessantes do programa. Após a visita brindámos às surpresas encontradas na casa, à exposição e à vista para o mar.

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Para o ano há mais!

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