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As opiniões dividem-se entre: não vás lá, aquilo é horrível, e, fica lá duas noites  se quiseres gastar dinheiro em festa rija, karaoke e lutas de anões. Fui na mesma, que não há muitas outras maneiras para sair das Filipinas.

Ao chegar começo a partilhar da primeira opinião, o caminho aeroporto-hostel é desolador com quarteirões feitos de prédios inacabados, barracas, sem-abrigo e pilhas de lixo. É um bairro de lata gigante salpicado de arranha-céus cinzentos igualmente deprimentes. O trânsito é de megalópole em hora de ponta: o caos. E numa hora de caminho fico com vontade de me trancar em qualquer sítio com lençóis brancos e ar condicionado.

Depois de respirar um bocado lá saímos à rua e a primeira coisa com que levamos são pessoas das mais simpáticas que nos passaram ao caminho. A segunda são toneladas de tubos de escape e buzinas a lembrar um pequeno cenário apocalíptico. Metemo-nos num Jeepney em semi-andamento, o transporte público de Manila que custa menos de 20 cêntimos e nos leva mais ou menos a qualquer lugar. Os Jeepneys são carros que sobraram da segunda guerra mundial, paralelipípedos de alumínio a cair aos bocados cujos condutores ainda se comportam como se estivessem a combater. É ver o trânsito completamente parado para motas, carros, autocarros e estes senhores a acelerarem contra cada buraquinho real ou imaginário entre apitos ensurdecedores, gente a entrar e a sair, peões, bermas e árvores e sinais de trânsito. Para nós é como ser figurantes no filme do soldado Ryan, mas com mais malta.

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Chegamos a Intramuros, a antiga muralha espanhola que rodeava a cidade e continua a guardar quase todas as coisas turísticas que se têm que ver em Manila. As pessoas continuam a cumprimentar e a rir para nós, a perguntar de onde somos e a falar no Ronaldo. Ao mesmo tempo continuam também as ruas cheias de miséria, as bermas de estrada e os jardins públicos cobrem-se de gente aos farrapos. E quando digo cobrem-se não é para soar poético, é porque os corpos se estendem sobre quase toda a relva, ou o que um dia foi relva, sobre os lancis, os bancos, os passeios. Corpos abandonados por toda a parte.

Os dois dias e meio de Manila ainda serviram para nos sentirmos mais à vontade no nosso bairro, nunca à vontadinha. As pessoas cumprimentavam-nos por ali morarmos, descobrimos os sítios para comer a menos de €1, descobrimos os sítios onde não comer e por onde não passar à noite.

Manila é uma experiência esmagadora desde as portas do aeroporto e por isso, eu digo, imperdível.

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* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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