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A pretexto da sua exposição individual A Oriente Tudo de Novo que está a desenrolar-se até ao final do mês de Agosto, no Museu do Oriente, (mostra integrada nas celebrações dos seus oito anos de existência), irei revelar alguns pontos essenciais da sua pintura e do seu percurso artístico. Este evento culmina numa série de exposições internacionais, que se iniciou no México e terminou em Oslo, em 2015.

A atual mostra contém trabalhos recentes de técnicas mistas, fruto da sua estadia em 2014 em Macau durante mês e meio. "De regresso ao atelier em Lisboa, fiz trabalhos de maiores dimensões e colagens utilizando os papéis por mim pintados que trouxera comigo. Trata-se de uma pequena representação da frutuosa estadia em terras do Oriente, onde nunca tinha estado". Tem um título apropriado dado que se ajusta ao seu estado de espírito, reafirmando o seu vocabulário onde existe um permanente recomeço, encontrando sempre um novo fôlego, uma nova oportunidade, fechando e abrindo novos ciclos a completar numa constante renovação. As formas em círculos e os traços são o abecedário da sua obra, a sua imagem de marca, cujas cores básicas são utilizadas em permanência através dos vermelhos, azuis, amarelos, para não referir os constantes brancos e negros que pontuam no território as composições picturais. "A forma circular é aquela em que eu me sinto como completa em relação ao estar na vida. Uma forma larga dá o gesto de felicidade ou de raiva". "Na forma nada acaba, tudo começa e continua sempre".

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"Sei que tenho de pintar para estar viva"

A circularidade gestual invade o espaço pictural através de formas e manchas deslumbrantes. "A pintura faz parte da minha vida". Na sua obra a pintura é "a minha razão de viver", transmitindo uma alegria profunda de cores exuberantes, vibrantes e vigorosas. Sente-se o prazer e a qualidade plástica, onde o interesse da pintura pela pintura tal qual ela se apresenta funcionando com luz e cores intensas; formas lisas e outras de volumes tridimensionais, num contraste entre o desenho e a linha, a escrita e o traço revelados sem rodeios. "Interessa-me a beleza como um alento para se estar vivo. O belo é uma questão de ética e uma figura estética. Está profundamente associado ao trabalho no meu dia-a-dia, que me prende ao mundo".

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Não tem receio que a sua obra possa ser considerada uma pintura decorativa, porque se debruça sobre atributos e conceitos presos ao sentido de harmonia e beleza que incute nos seus trabalhos, afastando-se do lado concetual predominante no período atual. As suas pinturas exprimem assim um sentimento ausente na maior parte dos artistas contemporâneos. O seu ambiente de trabalho é particularmente revelador no filme que Jorge Silva Melo está a preparar sobre ela Para um filme sobre a Alegria e a Felicidade começado a rodar em 2011. Neste aspeto, foi mostrado numa sessão aberta uma primeira experiência, projetado por ocasião da sua exposição, no espaço do Teatro da Politécnica em 2015, que tive o gosto de assistir.

Já em 2011, a autora tinha apresentado uma antológica dos últimos dez anos do seu percurso no Torreão Nascente precisamente com a produção dos Artistas Unidos. É talvez a partir dessa data que o seu percurso se encontra assumidamente firmado. Jorge Silva Melo tem um especial fascínio pela sua pintura encantatória dado que transmite uma vitalidade e dá aso ao encontro de uma alegria esquecida. "Encontro nelas uma busca constante pela felicidade e consolação. Descobre-se uma experiência da plenitude. Nasceu-me a vontade de ir filmando os gestos e o fazer de uma artista, filmando o seu caminho, caminhando". Filma a sua pintura de certezas que vai ao encontro do título da mostra de 2011 Sim!, que como ela afirma: "é uma questão de sobrevivência". Segundo este autor, Sofia Areal é um caso singularíssimo na sua geração nas artes portuguesas. É de facto, um dos trajetos originais na atualidade dentro da abstração com uma pintura expansiva, aberta e solar. Existe também uma vertente intuitiva na utilização do traço sempre com uma dimensão física muito forte. O seu palco são as telas.

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Sofia Areal (n.1960) iniciou a sua formação em Inglaterra, com os cursos de Textile Design e o Foundation Course, do Hertfordshire College of Art and Design, em St. Albans, (1979-81). Regressa a Portugal, estuda nos ateliers de Gravura e Pintura do Ar.Co, em Lisboa. Além da pintura e do desenho, desenvolve também a sua investigação plástica nas áreas da ilustração, design gráfico e cenografia. Começou a expor individual em 1990 e coletivamente em 1982.

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