Na redacção da Umbigo passo os olhos curiosa por uma estante, e tiro um livro, Halston é o nome impresso na capa. Sento-me perto da janela e começo a folhear. Numa página, como legenda da gravura de um vestido lê-se, Martha boutiques Nova Iorque “Halston is a happiness”... Suspiro... “-Halston seria sem dúvida felicidade no meu armário”. Incrível como vestidos de há quase 40 anos são tão actuais; não mudava um alinhavo.
Do Berço ao “Pill-box”
1932: Após a grande depressão nos Estados Unidos da América, Roosevelt venceu por uma vitória esmagadora, e esta "eleição decisiva" marcou o colapso do Quarto Sistema Partidário ou Era Progressista. Os jogos olímpicos realizavam-se em Los Angeles como resposta à dúvida do poderio económico dos EUA deixado pela crise da bolsa de 29. Nascia Jonhy Cash, Elizabeth Taylor... e a 23 de abril de 1932, em Des Moines, Iowa, nascia Roy Halston Frowick mais tarde conhecido apenas como Halston.
Desde cedo Halston desenvolveu o interesse pela costura e aos oito anos alterava roupas e criava chapéus para a mãe e irmã. Frequentou a Universidade de Indiana, em 1952, durante apenas um semestre. No final desse ano mudou-se para Chicago. Aí passou a frequentar um curso nocturno no Chicago Art Institute, que conciliava com o seu trabalho diurno de vitrinista.
A grande oportunidade de Halston surge quando o Chicago Daily News publica um artigo sobre os seus originais chapéus. Em 1957 abre a sua primeira loja, o Boulevard Salon na Michigan Avenue. Em 1959, trocou Chicago por Nova Iorque, onde foi trabalhar com Lilly Daché, uma famosa modista de chapéus francesa.
Em 1966, Halston desenhou a sua primeira colecção de pronto-a-vestir para a Bergdorf Goodman. Mas a fama viria primeiro por assinar os chapéus de Jacqueline Kennedy, como o modelo ”pillbox”, que a primeira-dama usou na posse de JFK. Em 1968 Halston abre a sua primeira loja em Nova Iorque.
Os 1970´s pertenceram a Halston
Durante os anos 70, nos EUA, surge uma onda de contestação contra a política imperialista do governo. Vivia-se ainda a guerra do Vietname, Nixon, o presidente americano deposto pelo caso Watergate, era a "personalidade" das telas de televisão. Luta-se pelas minorias culturais e sexuais. Martin Luther King era assassinado em 68 e em 69 dá-se a rebelião Stonewall na qual milhares de gays enfrentaram a polícia, estes acontecimentos levaram a uma maior agitação dessas minorias. Então aparece a Nova Iorque turbulenta dos anos 70, cidade dos bêbedos, dos gangues, cenário de cultura underground, do sexo, das drogas, da cultura gay. É uma cidade vibrante, na noite vivem-se todas essas liberdades como que um tubo de ensaio onde se procura experimentar tudo. A cena cultural expande-se para a noite, como a noite está presente nas galerias, os protagonistas são comuns. O centro desta nova subcultura que efervescia eram os clubes nocturnos com pistas de dança iluminadas por bolas de espelhos onde se ouvia e dançava música disco, enquanto nas pistas de dança se reproduziam movimentos corporais lascivos do alto de tacões com penteados afro e patilhas farfalhudas, espartilhados em roupa justa adornada de cornucópias. Tresandava a suor, sexo e drogas. O sexo ficava à distância da casa de banho mais próxima.
Ali todos podiam ser quem queriam, todos eram protagonistas, a vida vivia-se nas pistas de dança ao som de Gloria Gaynor, Village People, Chic que todas as noites embalavam estas casas nocturnas. Era a saturday night fever, as noites de sábado eram de evasão, frenesim e excessos. Foi a descoberta da música produzida, tornada objecto de consumo massificado, os Dj´s passaram a desempenhar um papel mais importante que os músicos ou compositores.
No meio de todos estes clubes destacava-se um, Studio 54, de Steve Rubell localizado em Manhatan, agitava as noites da Big Apple. Frequentador assíduo foi Halston nas suas alucinantes festas, que tornou este espaço na disco da década.
Era domingo e o studio 54 encerrava, toca o telefone alguém atende e diz que o clube está encerrado. “Preparem-se para abrir por hoje a noite é de festa”, dizia do outro lado da linha Haslton que se preparava para dar uma excêntrica festa de aniversário a Bianca Jagger.
Nada se poderá comparar, no balcão empregados deslizam de patins quase desprovidos de vestuário, na pista o som da disco aquece o ambiente misturando-se com as luzes que dançam na bola de espelhos enquanto dançarinos bailoçam no tecto, num cavalo branco entra finalmente a aniversariante, Bianca Jagger. Eram assim as festas do Studio 54, eram assim as festas de Haslton. Lá dentro conviviam personalidades como Andy warhol, Truman Capote, Liza Minelli, Bianca Jagger, Lauren Bacall que desfilam nos seus vestidos soltos e drapeados assinatura tão única de Haslton. Nenhuma discoteca que se prezasse ficaria completa sem mulheres vestidas com os seus modelos. O clássico vestido do estilista tornou-se a cara da década das discotecas.
Halston era um amante das discotecas e de qualquer tipo de festa, foi por isso e pela assídua presença dos seus modelos na noite que recebeu o titulo de estilista-celebridade. Tornou-se tão famoso como as divas que vestia. Através dele o glamour das discotecas dos anos 70 tornou-se icónico, o sportswear passou a ser valorizado com peças simples e femininas. O minimalismo, os vestidos super longos e as cores sóbrias foram uma das muitas referências deixados por este estilista. Halston revolucionou toda uma década, era sem dúvida o “uniforme para se vestir no Studio 54”.
Este designer, deixou nos anos 70 a sua assinatura em materiais como o jersey, a cachemira, e a famosa “ultrasuede” (camurça sintética) que usou para fazer o famosíssimo vestido-camisa. No auge da sua fama, Haslton foi denominado pela revista Vogue como o “inventor” do estilo “casual-chic”. Mas o seu império não se limitava à moda, passou também pelo design de uniformes da Braniff (companhia aérea norte americana), de óculos, luvas e uma linha de fragrâncias que foi um sucesso (o segundo perfume mais vendido de todos os tempos).
Halston inventou a era dos estilistas pop-star, sem ele não haveria Calvin Klein que aprendeu muito nas longas noites de Studio 54. Haslton viveu numa década de excessos, de liberdade, sensual, desinibida, livre, divertida. A liberdade cara de uma época pré-sida e pós anos 60 quando as pessoas ainda lutavam por ela.
Apesar das suas realizações notáveis,o império de Halston começava a desmoronar. Em Outubro de 1984, foi despedido da sua própria empresa e perdeu o direito a desenhar e vender roupa sob o seu nome. Viria a falecer em 1990 vítima de cancro agravado pelo facto de ser seropositivo. Mas ainda hoje Halston vive em cada vestido seu e faz a felicidade de quem o veste. Vive através da herança que nos deixou, a Halston Heritage .Quem não se lembra da Carrie Bradshaw do Sexo e a Cidade com os seus fantásticos vestidos Halston?