DIÁRIOS DO UMBIGO

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Fotografias: Sal Nunkachov Provisórios.

Os dois fins-de-semana da moda nacional (ModaLisboa e Portugal Fashion), trazem-me sempre – para além de artigos de tendências – uma riqueza versus pobreza visual, que me atormenta a alma.

As zonas sociais destes eventos, poderiam ser dignas de estudo, pois nelas podemos encontrar um sem número de conclusões acerca do estado da nação. Mas também não é sobre isso que me vou debruçar, até porque de socióloga não tenho nada. Muito menos de política. Percebo de trapos, e mesmo disso, desconfio de dia para dia, uma vez que meio Portugal, aparentemente, também percebe.

Mas retomando o tema “semanas” da moda, e tudo o que acontece fora da passerelle que, isso sim, é verdadeiramente intrigante. Falando de modas streetstyle, tão em voga. Havia, no passado presente (uns quinze anos, vá), uma grande discrepância na forma de vestir entre Lisboa e Porto. A verdade é que, muito graças às fast-fashion e às suas fardas, esta é uma realidade que tem vindo a perder força, uma vez que acaba por andar tudo ao mesmo. Mas há, no entanto, algo que, venha quem quiser, jamais me convence do contrário. Falta algo ao Porto. E falta algo a Lisboa. E nenhuma cidade se complementa neste aspecto.

Depois de analisar as pessoas, entre cá e lá, com poucos dias de diferença entre si (que aprimora o estudo) notei que, enquanto no Porto não existe um meio termo, em Lisboa só existe meio termo. Em termos – passem a redundância – de forma de vestir ou mesmo beleza natural. No Porto, e sublinho que tudo isto é visto de uma óptica generalizada, ou se vestem muito bem, ou se vestem muito mal. De um mal que não vejo em Lisboa. De um bem que não vejo em Lisboa. Com uma pinta que não há em Lisboa.

No Porto, ou são muito giras, ou são muito feias. E quando estão prestes a cair no meio-termo à la Lisboa, vestem-se de uma forma que se fazem parecer tope (o “e” no final serve apenas para acentuar o sotaque portista, lê-se tó-pe). Em Lisboa, há sempre o meio termo. E não mais que isso. Para além das personagens excêntricas típicas da ModaLisboa, que para mim estão longe de ser o “bem vestido”, não se vê ninguém com a pinta que se vê no Porto (quando se vê). Mas também não se vêem os outfits que tive o desprazer de ver no Porto, onde a palavra mau gosto seria considerada elogio.

Em Lisboa vêem-se muitas miúdas giras, mas menos bem vestidas. Ou mais bem vestidas, mas menos giras. Enquanto que em Lisboa tudo se passa no pequeno mundinho do meio-termo, cuja máxima reacção não passa de um encolher de ombros que diz “hum ok”, no Porto tudo se passa no grande mundinho do exagero. Do demais que é erro. Do excesso.

Dois pólos completamente distintos, concentrados em cerca de noventa mil míseros quilómetros quadrados. Como é possível num país tão pequeno como o nosso, haver espaço para dois eventos de moda, quando nem sequer existe uma linguagem uniforme na forma de vestir das pessoas, como existe em Paris, Milão, Londres, ou mesmo aqui ao lado, em Espanha.

Apetece enfiar o País num frasco, chocalhar e ver o resultado, podia ser que funcionasse e de lá saísse um estilo, um género que nos definisse. Mas havemos de lá chegar. É claro que esta crónica foi escrita ao abrigo da minha “dupla cidadania” – portista de pai e lisboeta de mãe. Óbvio.

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