BANDA DESENHADA

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Fotografias: Joana Pires.

6. Xixi, cama!

Para acabar esta reportagem sobre o Festival de BD de Angoulême, uma referência aos portugueses presentes neste importante evento e à exposição patente no Museu da BD dedicada aos “sonhos na BD”.

Sobre a primeira situação não há muito a dizer... Encontrava-se lá a Associação Chili Com Carne no FOFF (evento “fuck off”) e o autor Paulo Monteiro a assinar livros no stand da Six Pieds Sous Terre, que lhe editou a versão francófona do livro O Amor Infinito que te tenho e outras histórias. Estava lá ele na tenda do “Mundo Novo” numa das poucas situações em que temos autores portugueses publicados fora de Portugal e a assinar livros neste festival. Pelo meio, encontrei alguns autores portugueses a explorar o mercado da BD como o David Campos (autor de Kassumai) ou a Sofia Neto, que acabou de completar um curso de BD em Angoulême e procura estrear-se como autora.

No FOFF, a Chili Com Carne vendia os seus livros bem como de algumas outras editoras portuguesas como a MMMNNNRRRG, serigrafias e discos, tão habituada que está circular em festivais internacionais (Festival de BD de Helsínquia, Crack em Roma, Alt Com em Malmö, Tenderete em Valência), sendo esta a segunda vez no FOFF mas a quarta em Angoulême, tendo estado as outras primeiras duas vezes na zona da “BD Alternativa” (tenda que é prolongamento da “Novo Mundo”). A que se deve a mudança? Na essência, apesar de haver muito mais pessoas no “Novo Mundo” torna-se uma ilusão nas compras porque há menos pessoas focadas para edição independente, enquanto que no FOFF as pessoas que vão lá sabem para o que vão. Assim no “Novo Mundo” significa aturar desde putos a pedirem desenhos à pala enquanto que no FOFF o ambiente é mais de cerveja na mão e fiche-moi le camp!

“Fuck off” ou integrado no sistema, ainda assim vê-se que os portugueses são uma minoria que reflecte também a realidade do nosso mercado estagnado que não vingou nem depois do “boom” de 1996-2002 nem com os esforços institucionais também dessa altura – por exemplo, Portugal chegou a ter uma exposição, em 1998, no Museu do Papel, espaço onde geralmente são feitas mostras de países “convidados”. Este ano estava lá um colectivo de Toulouse, o Misma que apesar da piada Pop pouco me aqueceu, tirando o finlandês Roope Eronen, que finalmente tem Offices & Humans traduzido para uma língua acessível.

Quanto ao Museu da BD, para quem ainda quiser apanhar frio em França, está patente até 30 de Março a exposição Nocturnes : le rêve dans la bande dessinéeque apesar da habitual cenografia “kitsch” que os franceses têm sempre a mania de fazer (e que costuma ser imitada cá em Portugal pela BD Amadora), valia bem a pena porque o Museu tem, ou consegue sempre reunir, um espólio incrível de originais, desta vez de 71 autores que exploram a questão do “Sonho”. Como se sabe este é dos temas mais emblemáticos da BD que aliás criou umas das suas primeiras obras-primas, falo daquele puto que caía sempre da cama na última vinheta da BD, o Little Nemo, criação de Winsor McCay.

Estranho o comissário Thierry Groensteen não ter incluído o sérvio Aleksandar Zograf, um autor que poderia ser tão ou mais óbvio como David B., Blanquet, Charles Burns, Julie Doucet, Max ou Rick Veitch nesta questão dos sonhos… Entretanto, esta foi (é) uma boa oportunidade de ver alguns clássicos como Yves Chaland, Guido Crepax, Moebius, Fred, Chantal Montellier, Hugo Pratt, Gilbert Shelton ou Joost Swarte; “clássicos a sério” como Frank King, George McManus, Alain Saint-Ogan, Elzie C. Segar ou Peter Newell – nesta categoria o que embasbacou este vosso “sr. blasé” foi o trabalho de M.T. « Penny » Ross que desconhecia de completo. E ainda, na falta de melhor expressão, “clássicos mesmo clássicos” como Alfred Crowquill, George Cruikshank Jr, Honoré Daumier e, claro, Rodolphe Töpffer, o “pai da BD” tal como a conhecemos.

Nota para uma curiosa solução que a organização encontrou para pranchas de BD que possam ser chocantes para crianças. É colocada uma pala preta por cima da prancha, a tapá-la, mas que pode ser removida por um adulto para poder vê-la. Um compromisso bem pensado...

Depois de estarmos cheios de BD pelos olhos, o Museu ainda tem ainda a sua grande colecção permanente que apanha a História da BD. Aqui há de tudo e para todos e é sempre um prazer ver as peças expostas mesmo que seja a terceira vez que o faça. Nesta colecção havia um destaque à BD HP do italiano Guido Buzzelli (1927-92), talvez seja um dos autores mais importantes que tirou a BD do espectro infanto-juvenil mas que teve menos reconhecimento que o seu contemporâneo Hugo Pratt. Em Portugal, por acaso até lhe publicaram o primeiro álbum, Zil Zelub (Presença; 1973) e em 2005 tivemos uma bela exposição sua no Palácio Galveias, no âmbito do Salão Lisboa. Tudo isto passível de esquecimento pelo público português, claro, mas pelos vistos em França, o Museu até comprou as pranchas originais recentemente, daí a razão da sua exposição pública. Vão lá ver que aqui não se aprende nada...

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