DIÁRIOS DO UMBIGO

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Fotografias: Vera Marmelo.

Eu podia ter escrito este artigo há dez anos atrás, quando os vi pela primeira vez no CCB; o problema é que há dez anos atrás eu não sabia escrever. Ou pelo menos não teria tanto para escrever sobre os The Fall.

Falar dos Fall tanto pode ser demasiado complexo como demasiado fácil e isso vai apenas depender do ângulo do qual os vemos. Tendo em conta a discografia interminável (30 álbuns de estúdio, mais uns 30 álbuns ao vivo), a lista absurda de membros que por lá passaram desde a formação em 1976 (mais ou menos 66 membros e que até têm direito a um livro sobre as passagem mais ou menos efémeras pela banda) e um número considerável de biografias, diria que não há tese de doutoramento que suporte tanta informação. Por isso vamos pelo ângulo POP, de popular.

Se os Fall são POP, não, não são. Mas só os poderemos apelidar de anti-pop se percebermos o que é realmente a cultura popular.

O que antecede o concerto dos Fall no Out Fest é uma ridicularização em forma VJing dos ícones pop que manobraram e em parte continuam a manobrar tops de vendas, como Donna Summer, Elvis Presley (em decadência), Michael Jackson com os Jackson 5, Barbra Streisand e até Freddie Mercury com as suas performances dignas de estádio. Um momento bem conseguido e a fazer a ligação em oposição àquilo que viria a seguir.

Os elementos da banda sobem ao palco, agarram os respectivos instrumentos e agarram a atenção do público expectante por Mark E. Smith, que aparece logo de seguida. Correndo o risco de ser redutora, e sem descrédito para os músicos que acompanham e acompanharam no passado Mark E. Smith, pouca importância se dá aquilo que em palco se faz, exceptuando aquilo que Mark E. Smith faz em palco. É como se o público estivesse sedento da performance de um único elemento descurando aquilo que realmente interessa – a música. E a música continua a ser boa e citando o maior fã de Fall, John Peel, “they are always different, they are always the same”. E não poderia haver melhor frase para os descrever.

Se olharmos para a carreira dos Fall, o que salta à vista é a repetição. Não dos membros, mas do líder. É quase sempre a mesma abordagem, o que muda são os níveis de corrosividade. Durante o concerto estes foram sempre a subir, invariavelmente. Mark E. Smith é um arrogante em palco porque se pode dar ao luxo de o ser, porque existe público que suporta isso, porque existe trabalho feito e principalmente porque os ícones anti-pop não têm uma máquina por trás que os obrigue a comportar segundo standards mainstream.

Os Fall mostraram temas do novo álbum (Re-Mit), mas também tocaram clássicos como Psykick Dance Hall do álbum Dragnet, Mr. Pharmacist do álbum Bend Sinister (original da banda norte americana The Other Half) e até o Strychnine, original dos Sonics. Isto mostra que os Fall se contruíram com base em influências garage dos anos 60 mas mais importante é que os Fall, hoje em dia, são a influência para muitos que hoje em dia constroem e desconstroem melodias e os referem como grande influência. Passaram de miúdos influenciáveis da grande Manchester a nome influente do mundo inteiro. E isso sentiu-se no Barreiro. O público sorriu e Mark E. Smith esboçou proto sorrisos.

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