DIÁRIOS DO UMBIGO

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Fotografias: Hell Yeah.

Está a chamar (…) Deste lado toca. Ouve-se: “I could escape this feeling, with my china girl / I feel a wreck without my, little china girl / I hear her heart beating, loud as thunder / Saw these stars crashing”. Não é difícil reconhecer. É Boris, a chinesinha, a chinoiserie de Theresa, a sua peça de porcelana delicada. Deixa tocar. Não propositadamente, simplesmente acaba de sair do banho. Seca a cabeça com a toalha e passeia-se por casa. Saltita entre cada flecha de sol das águas furtadas. Leve, sem pressas. E distraída. Onde raio estará o telemóvel? O fim-de-semana tinha sido agitado. Flashbacks contínuos e… no cestinho da bicicleta, por debaixo do cabide em forma de veado (5 euros).

O relógio não é amigo, o mapa mal usa e na agenda reescreve os dias. Assim, desde os treze, quando se inscreveu na equipa de hóquei em patins. Habilidade que lhe viria a ser útil como verificadora de preços no Carrefour, só pelo prazer de patinar entre os detergentes, cereais e produtos de beleza. Um mês. Menos de um mês num curso de costura, este mais recente, para oferecer um cachecol em lã Renoir (5,67 euros novelo) rematado pelo não cachimbo do Magritte desenhado por ela. Para quem?

Deixa as recordações fluírem. Não têm o peso de um passado. São papelinhos, um pouco maior que confettis, melhor, do tamanho das senhas da Segurança Social (0 euros). Ouvir 643 (silêncio), 644 (silêncio), 645 (silêncio)… directamente até ao 674. No verso escreveu: "vale 1 pedido de desculpas mesmo quando a culpa é tua", “vale uma trança na segunda fila de cabelo a contar da orelha esquerda”. Trinta e uma, num frasco com o rótulo "Amor para Janeiro".

Decide ligar-lhe. Sabe que Boris sofre. Mas não é por piedade. Ama-o, amava-o, ama-o. É intermitente. Hesita. Ah, e gosta de o ver desorientado. Como quando entrou em casa e teve de rebentar os balões cheios de esferovite (embalagem de 100 – 6,5 euros), pendurados no tecto. Nunca nevou tanto em Lisboa. Sacudiu-se, atiraram-se, abraçaram-se, mergulharam. Ou quando, de olhos fechados, teve de subir a Travessa da Palmeira e escadas para se despir. Só com as indicações de Theresa. Que teria pensado? Que cara, antes! E que sorriso aberto, depois. Uma massagem a dois (atenção há boas promoções). Os dois, no mar de Menorca. Ou ainda, de regresso do Lux, com fome de mil anos, em que desata a comer os “chocolatinhos”, uns atrás dos outros. Roquefort (1,99 euros – 100 gramas) embrulhado em papel prata. Detesta queijo.

Liga. Ouve barulho familiar. Espreita pela portada. É um 2 cavalos (carro de amigo - 0 euros), vermelho, o do André. Segundos depois, encosta os lábios ao vidro. Partem. Sem destino e sem solução. Uma certeza - Theresa terá de cantar (0 euros). Na última viagem, Jane Birkin – "Je t'aime,...moi non plus". E desta vez? "Long Hot Summer" dos Style Council?

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