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Quem não gosta de recordar bons tempos passados? Eu adoro!

Gosto de passar os olhos e as mãos por fotografias antigas, de rever as modas pelas quais passei - umas mais embaraçosas que outras - de estar à volta de uma garrafa de vinho com amigos de longa data a recordar as patetices de outros tempos que, invariavelmente, hoje têm versões actualizadas, de ouvir da boca da mãe as histórias que ternamente nos envergonham.

Apesar de ser algo que faço regularmente, não estivesse eu tanta vez à volta de garrafas de vinho com amigos de longa data, nunca, até hoje, tive vontade de voltar a qualquer uma dessas épocas. Gosto do hoje e prefiro o amanhã. O passado só tem piada se visto como um peep show ocasional.

Os Beady Eye parecem acreditar no mesmo que eu.

Depois da gigantesca epopeia chamada Oasis, dramaticamente interrompida em 2009 - não fosse ela protagonizada pelos irmãos Gallagher - Liam e os antigos companheiros Gem Archer, Andy Bell, Chris Sharrock e Jay Mehler (ex-Kasabian, novo elemento) não perderam tempo a chorar os sucessos antigos e resolveram formar os Beady Eye. "Different Gear, Still Speeding" foi o primeiro ensaio do grupo sem ter o implacável Noel aos comandos de tudo e mais alguma coisa. O resultado não foi mau mas também não levou ninguém a pensar levá-los ao Wembley Stadium. Conseguiram o terrível feito de ser competentezinhos, graças a temas como Bring the Light e o feito extraordinário de mostrar Liam Gallagher mais estiloso que nunca, sempre impecavelmente vestido com as roupas da sua Pretty Green.

Mas, quem diria que aos 40, o enfant terrible da Britpop, recusava ficar em casa a viver dos rendimentos e tinha a coragem de mostrar que é bem mais que um arruaceiro com voz afinada que, para não viver na sombra do talento do irmão, tinha de fazer porcaria. Não vou mentir, ele continua a fazê-la e ainda bem. Mas também não se contentou com o sucesso 'comme si comme ça' da estreia dos Beady Eye e foi o motor para o regresso agora mais refinado, melhorando e muito as suas letras e arriscando mostrar que ainda sabe cantar sem efeitos. Prova disso mesmo é o primeiro tema a vazar do novo álbum, Flick of the Finger.

Beady Eye - Flick of The Finger

Tendo em conta esta primeira amostra, também a sonoridade dos Beady Eye parece ter saído da sua zona de conforto pós-Oasis, tão aborrecida que era, e parece estar agora no início do que poderá muito bem ser a sua identidade. E de referir que o primeiro vídeo em que uma baleia captura um pássaro, pode ser uma inteligente referência ao facto dos Beady Eye quererem 'apanhar' Noel Gallagher e os seus High Flying Birds. Mas não é tudo, depois do electrizante Flick of the Finger, os Beady Eye já revelaram o primeiro single, Second Bite of The Apple, que, aqui entre nós, ainda é melhor que o primeiro.

Beady Eye - Second Bite of the Apple

Com a super arma chamada Dave Sitek (TV On The Radio) na produção, Liam e companhia já têm o novo álbum BE pronto, com edição marcada para o próximo dia 10 de Junho. BE de Beady Eye, de ser, de estar, de ficar. Com um artwork notável com fotografias do gigante Henri Peccinotti, é quase comovente ver estes 'Oasis sem Noel' a deixarem as rodinhas de apoio e a lançarem-se direitinhos à estrada. Apesar de ainda não se conhecerem os restantes temas que compõem este segundo longa duração, arrisco a dizer que vem aí um grande álbum, a mostrar que os Beady Eye não deixam de olhar para o passado com afecto mas que não têm dúvidas que o que lhes pertence é o futuro. É quase certa a reunião dos Oasis em 2015 para o aniversário de What's the Story, Morning Glory (apesar dos irmãos Gallagher recusarem a hipótese e de continuarem em constante fogo cruzado nas redes sociais, fogo esse que tenho a convicção profunda que é apenas de vista), mas certíssima é a vontade destes cinco em continuar a escrever a história do Rock n' Roll.

Os Oasis ficaram lá atrás, foram bons, fazem parte mas quem está para ficar são os Beady Eye, aqueles que gostam do presente e preferem o futuro.

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