NOTAS SOLTAS

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Treinou para ser bailarina, mudando depois para modelo pin-up e dançarina. Quando tinha quinze anos trabalhou como vendedora numa loja de lingerie, hoje tem a indústria aos seus pés e é mundialmente conhecida pelos espectáculos burlescos onde dança banhando-se dentro de um gigante copo de Martini.

Nascida em Michigan, Dita Von Teese iniciou a carreira aos dezanove anos num clube de strip local, fascinada pelos anos quarenta e pela idade de ouro de Hollywood. Desde então tem trabalhado profissionalmente com conceituados estilistas mundiais e aos poucos tem vindo a ser aceite no mundo da moda desfilando para nomes como Christian Dior, Jean Paul Gaultier, ou vestindo colecções de Marc Jacobs e Vivienne Westwood.

Fotografia: Danielle Bedics / www.daniellebedics.com

A carreira de Dita Von Teese é particularmente interessante por pisar num território socialmente pouco aceite: o fetiche e o erotismo como veículos de promoção. As fotos têm habitualmente um ambiente cinematográfico, com uma carga sensual elevada e com um tom requintado e sempre luxuoso. Esta junção de uma iconografia perversa onde dominam os corpetes e saltos-altos é associada às mais extraordinárias jóias e acessórios de alta-costura. As influências derivantes de Bettie Page são incontornáveis e aos poucos Dita tem reintroduzido elementos retro no panorama contemporâneo da moda e publicidade, figurando em revistas como Vanity Fair, Vogue, Elle e em 2002 sendo a capa da Playboy.

Dita Von Teese é um exemplo moderno de glamour e femme fatale, o casamento perfeito entre perversão e bom gosto.

Fotografia: Ali Mahdavi

Como é que os teus pais e família reagem às tuas fotos de estilo pin-up e burlesco? Acompanham com regularidade o teu trabalho?

Eles apoiam-me muito. Não tenho a certeza se o fizeram em todos os momentos dos últimos dezassete anos, mas francamente, nunca me preocupei – eu era uma rapariga crescida a tomar conta de mim mesma. Por isso não havia nada que alguém pudesse dizer sobre o que eu estava a fazer. Se cometi alguns erros, eles eram meus e prefiro culpar-me a mim do que culpar outras pessoas por me prenderem.

Encontras alguma explicação para o súbito ressurgimento do estilo vintage na moda actual? Achas que possa ser só uma tendência retro que em breve irá desaparecer?

Não acho que irá desaparecer. Os designers têm referenciado o estilo vintage ao longo de anos e anos. Na década de setenta tiveste o ressurgimento dos anos trinta, e nos anos oitenta estavam a imitar os quarenta. É um ciclo que se perpetua. Pode desaparecer por uns tempos, mas irá sempre voltar. Desafio-te a tentares encontrar uma colecção da Dior que não tenha uma pequena marca de estilo retro! Todos os anos, em pelo menos uma colecção, acabas por encontrar algo vintage! E qualquer actriz que alguma vez vá desfilar na carpete vermelha diz ao seu estilista que quer parecer uma Grace Kelly moderna! Um pouco de glamour retro é sempre chic e irá constantemente ser reinventado e usado como fonte de inspiração.

Parece-me que actualmente existe um estilo visual associado a qualquer tipo de fetiche. Temos exemplos na moda, música, televisão, cinema… Pretendes igualmente expandir o teu trabalho a outras áreas?

Estou muito focada nos meus espectáculos burlescos, mas também tenho alguns livros que serão editados e uma linha de lingerie com a Wonderbra, mas sim, estou a expandir em áreas relacionadas com o que faço de melhor. Mas obviamente, não vou fazer shows burlescos sempre e é importante evoluir, que é o que tenho feito ao longo destes dezassete anos de carreira. Tudo tem de evoluir senão torna-se velho e irrelevante.

Já pensaste em fazer filmes e publicidade para televisão?

Claro, tenho alguns projectos na manga! Mas o número um para mim são realmente os shows burlescos, pois é de onde retiro maior satisfação por vir directamente dos meus esforços.

Como é a relação que desenvolves com os fotógrafos com quem trabalhas? Têm normalmente tempo para falar antes de uma sessão, existe algum tipo de briefing ou guião para o que é suposto fazerem em conjunto?

Depende. Faço sessões de fotografias muito diferentes umas das outras. Mas sei habitualmente de avanço qual é o plano, porque tenho ideias pré-estabelecidas de como quero aparecer, e estou num ponto em que posso escolher o tipo de sessões que são mais interessantes para mim. Acabo por ser eu a aprovar a minha equipa de cabeleireiros e maquilhagem, porque conheço a minha cara, o meu look, e acho importante manter-me fiel a esse look. Tenho estado a tirar fotos para o meu novo livro de beleza e claro que para esse projecto tenho sido eu a estilizar-me conforme quero. Cometi erros no passado de me entregar nas mãos de pessoas que me queriam “reinventar”, e os resultados foram habitualmente desastrosos. Muitas pessoas têm ideias mirabolantes de me querer mostrar praticamente nua, mas aqueles que mais admiro no mundo da moda são os que me compreendem e têm um sentido de respeito próprio, e que por isso acabam por me respeitar também.

Quais achas que são as maiores diferenças de uma pin-up actual em comparação com uma dos anos 50?

Bem, como deves imaginar, nos anos 50 na América deveria ser bem mais difícil e arriscado… Quando vemos, por exemplo, algumas das fotos mais raras da Bettie Page, eram bastante provocantes e quase pornográficas – dá para imaginar a diferença de uma modelo pin-up dos anos 50! Nessa altura deveria ser tudo bem mais secreto no que está relacionado com a pornografia, porque obviamente não existia Internet, e nos anos 50 os homens adquiriam filmes e fotos discretamente através de encomendas por correio. Era muito, muito diferente do mundo actual!

Fotografia: Ali Mahdavi

Depois do divórcio com o teu ex-marido Marilyn Manson, como olhas para trás na forma como essa relação possa ter influenciado a tua carreira e a dele?

Não é justo julgar uma relação comparando-a com trabalho. Nós estávamos juntos porque na altura estávamos apaixonados, e isso era suficiente, ponto final. Não era pelo sensacionalismo, ou por um golpe estratégico de carreira para nenhum dos dois. No entanto, continuamos em contacto de tempos em tempos. Compreendemos agora com alguma distância os erros que ambos cometemos e conseguimos apreciar a experiência completa. Os altos e baixos do casamento e do divórcio. De momento queremos o melhor para cada um, é fantástico chegar a esse ponto.

Ao vislumbrar as tuas fotos é notório um sentido de fantasia e mistério. O que inspira o teu trabalho?

Sou inspirada por livros que leio de mulheres do passado ligadas ao mundo do espectáculo, e que são excêntricas! Mas arte e filmes em geral inspiram-me bastante.

Como achas que conseguimos estabelecer o limite entre exibição explícita do corpo e pornografia? Isto é, no teu trabalho até que ponto consideras aceitável, para os teus standards, expores-te?

De facto é uma linha muito ténue e pessoal. É impossível definir num sentido geral para todos o que é ou não pornográfico, e isso cabe a cada um decidir. Para alguns é arte, para outros é porno. Eu sei qual é o meu limite, e esse limite tem flutuado ao longo dos anos conforme eu vou mudando, crescendo e melhor conhecendo quem sou.

Contudo, é curioso que os limites aceitáveis de exposição corporal têm também variado ao longo dos anos, assim como os próprios corpos das modelos. Actualmente parece-me que existem quase clones a nível corporal, fixando-se num modelo magro e standard, não achas?

Eu vejo todas as modelos como pessoas bonitas que são de diferentes formas e tamanhos. As modelos de moda são escolhidas precisamente pela sua forma corporal para que as roupas pareçam fabulosas. Mulheres altas e magras são óptimas modelos e isso irá manter-se assim enquanto os designers quiserem. Estas raparigas são bonitas, eu gosto de as ver da mesma forma que gosto de ver o meu corpo, ou mesmo um corpo de mulher mais cheio. Existem demasiados debates sobre a magreza das modelos, a maioria destas modelos são naturalmente magras porque são jovens e têm esse tipo de constituição, por isso não deveriam ser perturbadas! Infelizmente, algumas delas têm um sentido distorcido da sua imagem corporal e assim têm problemas, mas isso acontece a pessoas que também não são modelos.

Conta-nos como foi a tua experiência com a Playboy. Foi algo decisivo para ti?

A Playboy foi um ponto de viragem. Mas sinto que tenho tido muitas outras realizações que também são importantes. Tenho muito orgulho no trabalho que fiz para a The MAC Aids Fund, e para os espectáculos que realizei no The Crazy Horse, em Paris. Estou também muito entusiasmada com o meu novo livro, que é sobre beleza e irá ser editado em 2010.

Se tivesses de nomear o que achas de mais interessante em ser uma modelo pin-up, o que seria?

É um jogo elaborado de me vestir! Eu gosto do facto de poder criar um look completamente diferente aprendendo em simultâneo como me maquilhar e arranjar o cabelo.

Antes de concluirmos, o que achas que terias sido se não fosses actualmente uma modelo?

Provavelmente teria sido estilista ou tinha a minha própria loja de lingerie.

www.dita.net

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