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Ana Vidigal x Nuno Nunes-Ferreira

 

O tempo da contemporaneidade é um tempo de questionamento. Não tem período definido, nem tem cronologia. É um tempo cambiante e pessoal, um tempo que é interior e divergente em termos globais e, sobretudo, crítico. Deste modo, a arte contemporânea só pode ser uma prática profundamente política sem que seja, contudo, panfletária. A arte contemporânea interroga e exige do espetador uma posição e uma reflexão ao confrontá-lo com temáticas globais, presentes e históricas. É, como Terry Smith sugere, uma arte “concebida como um campo de investigação crítico, teórico, histórico e, acima de tudo, da história da arte”.

A exposição Toma lá dá cá reúne dois dos mais conceituados artistas contemporâneos que fazem da sua prática uma investigação da cultura e da história nacional recente: Ana Vidigal e Nuno Nunes-Ferreira. Neste contexto, a memória e o arquivo são frequentemente trabalhados por ambos e são os suportes artísticos e conceptuais de um diálogo que propõem a si mesmos e à contemporaneidade portuguesa.

Ditadura e liberdade, resistência e luta, submissão e libertação, conservadorismo e progresso, privado e coletivo. É neste campo de dualidades que os artistas ocupam agora a Galeria NovaOgiva, em Óbidos, e trazem as suas produções para um terreno ainda conflituoso de lembrar, mas sempre necessário e fundamental se quisermos fazer sentido do presente.

Se Nuno refere “Festa”, Ana devolve “(…)podiam ter sido de quermesses de aldeia, jogos de cama e atoalhados. Venderam sonhos e utopias”. Se Nuno lembra “Verão Quente”, Ana responde “(…)foi a adolescência da Revolução”. Se Nuno diz “Aqui”, Ana sublinha “(…) é da memória que falo, não daquilo que me contaram, mas do que ficou escrito no arquivo do horror”. E, ao contrário, se Ana pergunta “OÚ VA T’ON?”, Nuno responde com outra pergunta “Que passado foi este onde te escondes?”.

Este é não apenas um diálogo, mas também uma reportação a obras elaboradas pelos artistas e, neste sentido, a exposição faz igualmente uma resenha crítica à prática de cada um. No fundo, um encontro crítico e artístico sobre o qual se constrói uma linha política bem definida, de dois artistas que floresceram, em períodos distintos, com o dealbar da democracia.

Paralelamente, no Museu Municipal de Óbidos pode ser visitada a exposição Guardadores de Memórias_Hoje, na qual os artistas se apropriam dos acervos dos museus desta cidade para os chamarem à contemporaneidade. Um título curioso ao lembrar-nos que os museus têm uma ação continuada de rememoração e curadoria, no sentido etimológico do termo – isto é, de curar e guardar os objetos singulares de um tempo para os mostrar continuamente.

Toma lá dá cá pode ser vista na galeria novaogiva, até 15 de abril, e Guardadores de Memórias_Hoje no Museu Municipal de Óbidos, até 20 de maio.

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